quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Paranóia Matinal



Ontem de manhã tive uma pequena grande amostra de como pode um dia ser minha vida. Revivi a forma como ela estava antes da internação e do ECT.

Primeiro foi a minha água. Costumo tomar água direto de uma garrafa de 1,5 que encho naquelas bomba de 20 litros que temos aqui em casa. Várias vezes procurava minha água e quando me dava conta estava em algum lugar da cozinha, ou da sala, próximo do local onde Clarisse, a moça que trabalha para nós, estava ou fica grande parte do tempo. E normalmente, quando a encontro tem apenas um quarto da quantidade de água da garrafa. E eu tenho um problema sério de urgência na hora de urinar. Daí, somei 2 e 2 e deu 5,obviamente. Ela coloca diurético na minha água. Feita essa constatação, que já é antiga, pois antes do ECT eu concluíra a mesma coisa, abriu-se um leque de outras possibilidades.

Uma de minhas gatinhas, de acordo com minha percepção, fica meio”lerda e deprimida”, quando Clarisse está aqui. Minha gatinha também está bem mais magrinha, comendo normalmente. Logo, fica óbvio, nossa funcionaria está dando veneno para ela!

Também é um saco o que passou a acontecer com nossos aparatos eletrônicos que possuem cabos. Os cabos dos meus fones quebrando, do mouse e dos carregadores da minha mãe tendo o fio desencapado e por aí vai. Os controles remotos funcionando com muita dificuldade, tendo que apertar os botões lá no fundo, mesmo quando trocamos as pilhas.

E então eu percebo que não tomei os meus remédios nessa manhã. Às 11 horas.

Sabe o que é mais difícil? É você pensar isso tudo de uma pessoa que você gosta. Que no geral sempre que pôde, “ até onde você tem certeza”, foi legal com você. Tratou você bem, conversou, foi amigável. Daí eu penso que não adianta, até do meu pai e da minha mãe penso coisas absurdas, que não me parecem absurdas, no entanto. A única coisa que me faz ter um discernimento e chamá-las de absurdas (não considerá-las, veja bem), são os medicamentos. Eles me presenteiam com o benefício da dúvida nesses casos.

Por que mesmo quando os utilizo, continuo tendo esse tipo de sentimento, o que muda é a relevância que eles tem para mim e para meu dia. O que muda, é que consigo, mesmo cheio de dúvidas, ser amigo da Clarisse e tratá-la com carinho. O que muda é que consigo tratar meu pais com, bem, como meus pais.

O que posso dizer? Maldita genética, maldita maconha, maldito câncer (que leva aqueles que amamos), maldito transtorno esquizoafetivo!

Ou se for tudo realidade, maldita Clarisse, malditos pais, maldito câncer (que leva aqueles que amamos), maldita conspiração!

E ao analisarmos vemos que a única coisa em comum em “ambas realidades”, é o maldito câncer, que leva aqueles que amamos. Que levou meu “Príncipe Improvável”. Mesmo isso, houve vezes que duvidei (e adorei sentir essa dúvida), que ele tenha realmente morrido. Cogitei se não foi tudo um teatro. Mesmo aquela cena no hospital, quando vi o corpo dele funcionando a base de aparelhos e pensei “Ele não está mais aí”. Quando eu olhei e percebi, que dissessem o que dissessem, quando segurei a mão dele e rezei e disse o quanto o amava, entre outras coisas, ele já estava morto. Só o que restara era uma casca vazia. Mesmo aquele corpo no caixão, que para mim nada mais era que um boneco de cera.

O mais difícil, é que as pessoas que olham de fora, nem imaginam todo esse mundo que se passa dentro de mim. E mesmo pessoas que deveriam saber, ou pelos menos imaginar, quando eu começo a falar sobre alguns desses pensamentos, ao invés de me ajudar, seja ajudando a enxergar além ou apenas ouvindo, preferem me censurar, chingar e tentar me fazer sentir uma merda inútil e ingrata que reclama de barriga cheia.

E é isso aí por hoje. Beijos aos que lerem.
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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Malévola e Amor




De todos os filmes da Disney que já assisti, creio que é Malévola o mais intrigante e instigante.Um filme que conta a história de uma personagem que, por quase todos é considerada uma vilã, mas que por aquela que realmente importava, além de vilã, também era considerada uma heroína. Malévola, em sua inocência, deixou-se levar por alguém que não merecia sua confiança, nem a revelação de seu ponto fraco e muito menos seu amor. Foi traída da pior forma possível, tendo sido não só roubada sua inocência, mas mutilada em suas asas, que eram seu diferencial dos humanos, símbolo de sua liberdade, de sua origem mágica e de sua pureza.

E, a partir disso, ela se torna um ser sombrio, amargo, triste, e (quase) totalmente solitário. Ocorrem, a partir de então, os acontecimentos do filme Bela Adormecida. Porém com algumas diferenças. Algumas “revelações”. Enquanto era criada pelas atrapalhadas Fadas Madrinhas, muitas vezes, Aurora não tinha os cuidados necessários devido à inexperiência e as trapalhadas das fadas. Mas alguém a espreita, nas sombras, muitas vezes a socorria. Alguém que Aurora adota como sua verdadeira Fada Madrinha. Malévola.

É interessante ver como são relativos e muitas vezes manipulados os conceitos de bem, mal, vilões e heróis.O filme mostra como não existe bem ou mal absoluto. Mostra como alguém pode ser herói, depois vilão, depois herói de novo. Ou bom, depois mau, depois bom novamente. Mas também mostra que existem coisas que são ABSOLUTAS, como alguns de nossos atos, às vezes. Certas coisas são IRREVERSÍVEIS. Malévola, depois de lançada maldição, tenta reverte-la, mas devido à sua própria escolha de palavras quando a lançou, não consegue. Isso não é possível, devido a IRREVERSILIDADE de certas escolhas que fazemos.

Mas no filme, no final, tudo acaba bem. No entanto, fica claro, que não por a maldição ter sido removida, mas sim porque ela se realizou até o final. Não foi por o feitiço te sido retirado e sim porque as principais pessoas envolvidas nele, tinham amor no coração. Sei que parece clichê mas acredito que o amor é o maior poder que existe no mundo atualmente. Não podemos voltar no tempo, mas podemos entregar nossos problemas nas mãos de algo maior do que nós, quando estamos de ”mãos atadas”. Certas coisas são irreversíveis. Não podem ser desfeitas, mas creio que podem sim, ser superados. Com Amor. Pois afinal, Deus é Amor, não?

Beijos aos que lerem.

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domingo, 13 de setembro de 2015

Estresses, Raiva e Fúria





Hoje não estava muito inspirado para escrever. Me estressei com meu pai em pleno café da manhã e, como ele é incapaz de pedir desculpas, e eu tenho sérias suspeitas de que, o motivo da incomodação, foi algo que ele fez propositalmente, fiquei bem chateado boa parte do dia. Pensei em não escrever, mas olhando meu diário, agora a noite, achei um texto que se encaixa perfeitamente com aquilo que senti de manhã e até mesmo, em alguns momentos no resto do dia. 


Graças a Deus no meio da manhã me ligou uma amiga muito querida, que apesar de agora estar morando em outro estado, ainda tem um timing perfeito. Me ajudou a melhorar bastante de humor, mesmo que não totalmente. Só não melhorei totalmente por que realmente foi bem forte o que senti depois do estresse com meu pai. Quase como descrito no texto que segue abaixo:



“31/07/2015


Sabem, as vezes sinto tanta raiva, tanto ódio, que parece que vou explodir. E nessas horas,nasce em mim um imenso impulso destrutivo, que preciso extravazar de alguma forma. Chego a me imaginar quebrando tudo ao meu redor, sejam objetos, espelhos, portas, vidros ou janelas.


As vezes sinto revolta com o mundo, com os outros, comigo mesmo. Mas é tudo isso elevado a um nível profundo e altíssimo (kkkkk), tipo level HARD.


Outra fantasia que tenho, é de mim quebrando um espelho com a testa (clichê, né?) e depois usando um dos cacos para cortar os pulsos.


ELES não imaginam, ninguém imagina, mas quebrar a confiança de meus terapeutas tomando uma superdose de medicações, parece uma brincadeira perto dos meios de extravazar minha fúria, que imagino às vezes. Me mutilar com um estilete é apenas um paliativo, para quem não tem coragem de tornar os cortes mais fundos e ver o sangue jorrar até a vida se esvair junto com ele. A fúria, a revolta, que me dominam são normalmente por coisas, fatos, acontecimentos ou situações que não posso modificar. Pela minha impotência perante certas coisas.


Por isso tantas sombras, escuridão e violência em meus quadros. Quer dizer, em alguns. O meu pai queria que eu pintasse paisagens, como no início. Mas só se elas significarem algo para mim. Só se a ideia geral da tela significar algo e me representasse de alguma forma. Tem que ter algum sentido. Até posso pintar paisagens, ás vezes, mas quero mesmo é ser apreciado pelos meus outros quadros. Quero que as pessoas se questionem, entendam, ou apenas aceitem e, de preferência, se interessem pela minha escuridão transposta para a tela em forma de arte. Quero ser amado em toda minha “obscuridade exposta”. E, de quebra(kkkkk), sentir-me aliviado em meus impulsos. Sendo eles destrutivos ou não.”










Agora estou melhorzinho. Esse texto, escrevi no período pós quase suicídio e pré internação e ECT. Fico pensando o que significa eu hoje ter tido pensamentos auto-destrutivos. Será que é normal para alguém que está com medicamentos ajustados e fez uma penca de ECT? Vou ter que relatar para a minha psiquiatra. Espero que não signifique nada de ruim. Em manhãs como a de hoje, penso que apesar de todas as desvantagens que existem, as vezes a internação consegue ser quase melhor do que aqui fora. O pelo menos do que aqui em casa. Mas provavelmente se eu estivesse lá, estaria ansiando pelo dia da alta. Certas coisas são mais complicadas do que parecem. Fico por aqui. Beijos aos que lerem.
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sábado, 12 de setembro de 2015

"Divas, Desafinos e Lip Sync"



Gente, quando as pessoas vão entender que gosto é que nem * ?

De que adianta colocar num vídeo que cantora fulana de tal é melhor que beltrana? Mesmo que você prove, mostrando ambas cantando e a beltrana cantando pior ou até mesmo dublando, você acha realmente que os fãs dela, mesmo os que dizem o contrário, não sabem disso? Você acha que eles vão deixar de gostar dela por causa do vídeo? Você pensa, que apenas por causa do vídeo, eles vão começar a gostar da Fulana? Olha, creio que não é assim que funciona. Até por que, muitas vezes, eles gostam de ambas, inclusive. Mais de uma que de outra, mas gostam de ambas. Mesmo que elas sejam absolutos extremos.

Vi um vídeo hoje que comparava “as piores cantoras” (nas palavras de quem fez o vídeo), com as “Divas Absolutas”. É um vídeo engraçado, entre as “piores” tem cantoras como Miley Cyrus, Taylor Swift, Katy Perry, Rihanna, Jennifer Lopez, Britney Spears, Madonna, Selena Gomez, Shakira, Lana Del Rey. Algumas, eu até concordo, acho ruins, mas jamais faria um vídeo para falar mal delas, pois estou me lixando para elas. Mas sobre outras, precisa dizer que agradeço, pois o efeito foi absolutamente oposto ao que imagino que eles esperavam. Quando vi a Britney, cantando live, seja bem ou mal, a música “Shadow”, pensei: “Preciso baixar esse vídeo. Amo Shadow, amo Britney e adorei o live.” E saí a procurar. Também amo Lana de Del Rey, gosto de Katy, Selena Gomez... No vídeo, aparece a Lady Gaga, como uma das Divas, e ela diz que as pessoas pagam ingresso e vão aos shows para ver o artista cantar, não dublar.


Tenho novidades para ela sobre isso: nem sempre.


Praticamente todas as pessoas que vão assistir Britney, sabem o que estão comprando, quando pagam o ingresso. Eles sabem que ela vai dublar. E vão ao show do mesmo jeito e a amam do mesmo jeito.


Eu durante muito tempo tive sonho de ser artista musical. Hoje “meio” que desisti. “Meio”, por que, ainda penso que se um dia tivesse a chance, nem que fosse para dublar, eu agarraria com unhas, dentes e lip sync.


Mas voltando ao vídeo, entre as “Divas Absolutas”, estavam Whitney Houston, Gloria Estefan, Celine Dion, Adele, Jennifer Hudson, Mariah Carey, entre outras. Concordo que praticamente todas são Divas mesmo. Apenas acho que não há nada de construtivo nessas comparações. São engraçados, mas não trazem mais fãs para as artistas. Eu, por exemplo, gosto da Whitney Houston, curto alguma coisa da Mariah Carey, mas sou fã e amo mesmo, das artistas citadas nesse texto, Celine Dion, Britney Spears e Lana Del Rey. Artistas completamente diferentes, mas que para mim são equivalentes, pois cada de uma de uma forma diferente me representa, toca meu coração e agrada meus ouvidos.


Beijos aos que lerem.
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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Motivações de Um (Quase) Suicídio



O texto abaixo também trata de suicídio. Do que eu buscava (ou achava que buscava) nele. Escrevi-o depois da minha tentativa mal sucedida e antes da minha internação e das sessões de Eletroconvulsoterapia.






“Quando tomei os comprimidos minhas intenções eram:


1. Ser salvo (vivo ou morto) ;


2. Ser livre (vivo ou morto);


3. Acabar com a dor (ou melhor, as dores, pois são muitas);


4. Acabar com os arrependimentos, as máscaras;


5. Exterminar as vozes que me dizem o que não fazer e, o que de ruim vai acontecer, se eu fizer; Que muitas vezes me paralisam, mesmo que o GuiB. saudável saiba que é quase tudo mentiras, medos (muitos sem fundamentos) ou então apenas vagas possibilidades;


6. Eu queria também esquecer. Acabar com a falta, a saudade, com a sensação de ter o coração arrancado sem praticamente nenhum aviso. 


7. O remédio que usei na minha tentativa causa esquecimento, creio que por isso o escolhi. Eu tenho tido muitos possíveis esquecimentos. Mas como sou paranoico, não confio em quase ninguém, fica difícil definir o que é esquecimento mesmo. Chegou ao nível do desespero onde tudo o que eu queria era esquecer tudo e todos e sentir paz, não desconfiança e descrença dos que me cercam. Ir para um lugar onde poderia confiar em todos ou apenas a dor vai parar. As dores. E vou poder esquecer o que quiser, que alguém vai me mostrar, daquilo que eu esqueci, apenas o que ajuda e importa, e eu vou acreditar. Onde não vão me ludibriar. “


E lendo isso, vi que existe sim esperança. Não preciso morrer, mesmo que as vezes meu cérebro tente dizer o contrário.


Não estou salvo, nem sou livre, mas desde que fiz o ECT, a dor, as dores, diminuíram consideravelmente. 


Estou lidando melhor com os arrependimentos. 


Ainda os sinto, mas procuro usá-los para me ensinar. Para não repeti-los com um possível novo amor no futuro, ou seja lá com quem for.


As vozes, ainda estão presentes, mas agora consigo discernir melhor a hora de dar atenção a elas ou não.


Os medos estou enfrentando, mesmo que lentamente, mas estou. Coisas como ir na padaria e conversar meia dúzia de palavras com a atendente, sorrindo e sendo simpático, não estão mais fáceis, mas eu estou mais forte e lutando contra a fobia social. 


Quanto ao coração arrancado, o jeito é me virar como posso sem ele e esperar a ferida cicatrizar. Mas a cicatriz estará sempre lá. E é bom, não quero mesmo esquecê-lo. Cheguei a essa conclusão. Deixa-lo ir, é uma coisa, mas fingir que nada aconteceu, é impossível para mim. Não há ECT que apague um amor como o que vivemos o Príncipe e eu.


Mas a Eletroconvulsoterapia ajuda a esquecer, em outros casos. Esqueci de muitas coisas, exatamente como disse no fim do textinho que desejava que acontecesse com meu suicidio. Mas elas ainda estão no meu cérebro, isso eu já descobri. Às vezes, quando me falam de algo que não lembro, acabo lembrando do resto da história. Mas no geral, sozinho, lembro apenas do que realmente importa. Meu pensamentos estão muito mais construtivos e criativos. 






Quero dizer, com essa postagem, que existe esperança de felicidade para um suicida. E não, não precisa ser morto. Se alguém, que não tentou se matar, me dissesse isso, eu diria que é balela, menosprezaria, afinal, pensaria eu: “a verdade é que essa pessoa não entende nada, não sabe pelo que estou passando”. Mas eu tentei, e fico feliz de dizer que não deu certo. Outras coisas, no entanto, deram, como o ECT e o ajuste de medicamentos. E tenho que repetir: Existe esperança de felicidade para um suicida, e esta não é a morte. Beijos aos que lerem.

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quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Relato de Um (Quase) Suicídio



Estou eu, aqui, voltando ao assunto Suicídio. Mas acho adequado, já que hoje é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, no Setembro Amarelo, um movimento mundial criado para promover a discussão do assunto, a conscientização da população, e a prevenção do mesmo. Ás vezes, as pessoas não entendem o que passa na cabeça de uma pessoa que tenta se matar. Muitas vezes, quem faz isso, é vítima de preconceito, taxada de fraca, de carente de "atenção", seja antes ou depois da tentativa. As vezes, antes de chegar as vias de fato, algumas pessoas tentam conversar com alguém, porém a incompreensão é como uma barreira que faz o suicida sentir-se ainda mais culpado, e, em muitos casos, tentativas de fazê-lo ver as coisas "em perspectiva" só aumentam seu sentimento de inadequação e desvalia. Abaixo, o relato de como foi minha tentativa e o que eu senti. 




"Está tudo tão confuso. Estou aqui na casa do vô e da vó. Acabei de lembrar, não sei bem porque, os momentos antes de tomar os medicamentos que configuraram a tentativa de suicídio de uns dias atrás. Me lembrei do momento em que, calmamente, tirei as embalagens de medicamento da caixa organizadora onde ficavam. De quando tranquei a porta do quarto, liguei a música do celular e coloquei os fones. Sentado na cama, tive aquele momento de dúvida, que deve dar em todo mundo que faz isso. Tirei as cartelas das caixas e fiquei encarando-as. Sem chorar, para não ser ouvido, comecei o trabalho repetitivo, chato, frenético, assustador, que eu odiaria (não gosta de trabalhos repetitivos), caso não fosse o último que eu faria. Não lembro quantas caixas foram, mas agora sei que foram insuficientes. Lembrei agora de alguns anos atrás, quando eu tinha uma reserva imensa de remédios que eu tomava na época e tinha conseguido de amostras. Eram muitas caixas de um medicamento forte. Muitas mesmo e eu os escondia no meu quarto. Um dia uma pessoa encontrou e me perguntou por que os guardava escondidos ali. Respondi, aparentemente brincando, mas dizendo a verdade: "Ora, para o caso de querer abortar a missão."

O detalhe é que na época eu estava bem. Como agora.

A verdade, é que esse pensamento me acompanha vida inteira, desde que me entendo por gente, e humano consciente e pensante. Como se a ideação suicida fosse uma segunda natureza, uma parcela daquilo que define quem sou, da minha essência. E tem uma parte minha que luta contra "minha luta para arrancar esta essência", que me faz sentir que isso seria como me mutilar. Não cortes de estilete no braço, mas um braço ou uma perna ou ambos arrancados.

Portanto, tomei a decisão. Não total. Não era uma escolha total, era mais com uma roleta russa. Na verdade tive tanto medo, principalmente de ficar vivo em uma situação ainda pior do que aquela na qual me encontro, por ter tomado o suficiente mas ter sido salvo e ficado sequelado, que deixei duas caixas do medicamento intocadas. Mas voltando ao relato, tomei o primeiro gole da minha garrafa d'água e engoli cerca de três quartos dos comprimidos. Daí fui na sacada sentei e a Laura, minha gata, que estava o tempo inteiro do meu lado, subiu no meu colo mais uma vez. Depois voltei, tomei o resto dos comprimidos, tudo ficou nebuloso e não me lembro de mais nada."




E esse é o relato. Vou deixar que ele fale por si. E o fato de eu estar aqui escrevendo, fale por mim e pelo que sinto agora, pós internação e pós ECT. Beijos ao que lerem.





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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Carta Pós Um (Quase) Suicídio (condensada)



Resolvi escrever sobre o assunto suicídio, que é, ou ao menos parece, um assunto espinhoso e cheio de tabus. No entanto, acho adequado, não só pelo fato de eu ter tentado recentemente, mas por que estamos no Setembro Amarelo , Mês Mundial de Prevenção ao Suicídio, um movimento mundial criado para promover a discussão do assunto, a conscientização da população, e a prevenção do mesmo. 

Ás vezes, as pessoas não entendem o que passa na cabeça de uma pessoa que tenta se matar. Muitas vezes, quem faz isso, é vítima de preconceito, taxada de fraca, de carente de "atenção", seja antes ou depois da tentativa. As vezes, antes de chegar as vias de fato, algumas pessoas tentam conversar com alguém, porém a incompreensão é como uma barreira que faz o suicida sentir-se ainda mais culpado, e, em muitos casos, tentativas de fazê-lo ver as coisas "em perspectiva" só aumentam seu sentimento de inadequação e desvalia. 

No meu caso, a verdade, é que esse pensamento me acompanha vida inteira, desde que me entendo por gente, ser humano consciente e pensante. Como se a ideação suicida fosse uma segunda natureza, uma parcela daquilo que define quem sou, da minha essência. E tem uma parte minha que luta contra "minha luta para arrancar esta essência", que me faz sentir que isso seria como me mutilar. 


Portanto, cerca de 2 meses atrás, tomei a decisão. Não total. Não era uma escolha total, era mais com uma roleta russa. Na verdade tive tanto medo, principalmente de ficar vivo em uma situação ainda pior e ainda por cima sequelado, por quem sabe ter sido salvo, mas ter ingerido remédios demais, que deixei duas caixas do medicamento intocadas. Tinha certos objetivos, com meu ato. O trecho abaixo foi retirado de meu diário, alguns dias após minha tentativa: 

“Quando tomei os comprimidos, minhas intenções eram: 

1. Ser salvo (vivo ou morto) ; 

2. Ser livre (vivo ou morto); 

3. Acabar com a dor (ou melhor, as dores, pois são muitas); 

4. Acabar com os arrependimentos, as máscaras; 

5. Exterminar as vozes que me dizem o que não fazer e, o que de ruim vai acontecer, se eu fizer; Que muitas vezes me paralisam, mesmo que o GuiB. saudável saiba que é quase tudo mentiras, medos (muito sem fundamento) ou então apenas vagas possibilidades; 

6. Eu queria também esquecer. Acabar com a falta, a saudade, com a sensação de ter o coração arrancado sem praticamente nenhum aviso. 

7. O remédio que usei na minha tentativa causa esquecimento, creio que por isso o escolhi. Eu tenho tido muitos possíveis esquecimentos. Mas como sou paranoico, não confio em quase ninguém, fica difícil definir o que é esquecimento mesmo. Chegou ao nível do desespero onde tudo o que eu queria era esquecer tudo e todos e sentir paz, não desconfiança e descrença dos que me cercam. Ir para um lugar onde poderia confiar em todos ou apenas a dor vai parar. As dores. E vou poder esquecer o que quiser, que alguém vai me mostrar, daquilo que eu esqueci, apenas o que ajuda e importa, e eu vou acreditar. Onde não vão me ludibriar.” 

Lendo isso, vi que existe sim esperança. Não preciso morrer, mesmo que as vezes meu cérebro tente dizer o contrário. Aquilo que objetivava alcançar me matando, alcancei, ao menos parcialmente, com a tão estigmatizada, Eletroconvulsoterapia. 

Não estou salvo, nem sou livre, mas desde que fiz o ECT, a dor, as dores, diminuíram consideravelmente. 

Estou lidando melhor com os arrependimentos. Ainda os sinto, mas procuro usá-los para me ensinar. Para não repeti-los com um possível novo amor no futuro, ou seja lá com quem for. 

As vozes, ainda estão presentes, mas agora consigo discernir melhor a hora de dar atenção a elas ou não. 

Os medos, estou enfrentando, mesmo que lentamente, mas estou. Coisas como ir na padaria e conversar meia dúzia de palavras com a atendente, sorrindo e sendo simpático, não estão mais fáceis, mas eu estou mais forte e lutando contra a fobia social. 

Quanto ao coração arrancado, o jeito é me virar como posso sem ele e esperar a ferida cicatrizar. Mas a cicatriz estará sempre lá. E é bom, não quero mesmo esquecê-lo. Cheguei a essa conclusão. Deixa-lo ir, é uma coisa, mas fingir que nada aconteceu, é impossível para mim. Não há ECT que apague um amor como o que vivemos o Príncipe e eu. 

Mas a Eletroconvulsoterapia ajuda a esquecer, em outros casos. Esqueci de muitas coisas, exatamente como disse no fim do textinho que desejava que acontecesse com meu suicidio. Mas elas ainda estão no meu cérebro, isso eu já descobri. Às vezes, quando me falam de algo que não lembro, acabo lembrando do resto da história. Mas no geral, sozinho, lembro apenas do que realmente importa. Meu pensamentos estão muito mais construtivos e criativos. 



Quero dizer, com essa postagem, que existe esperança de felicidade para um suicida. E não, não precisa ser morto. Se, alguém que não tentou se matar, me dissesse isso, eu diria que é balela, menosprezaria, afinal, pensaria eu: “a verdade é que essa pessoa não entende nada, não sabe pelo que estou passando”. Mas eu tentei, e fico feliz de dizer que não deu certo. Outras coisas no entanto deram, como o ECT e o ajuste de medicamentos. E tenho que repetir: Existe esperança de felicidade para um suicida, e esta não é a morte. 



Como bom paranoico, fico na dúvida se, na realidade, não foi feita uma espécie de lavagem cerebral, e virei uma espécie de robozinho, devidamente programado para não dar trabalho e causar problemas. Contudo, quando analiso quem e como sou e estou, nesse ainda curto período, desde que fiz o tratamento e saí da internação, creio que não. Também percebi que não quero "ter a chance de ser feliz como alguém normal", como disse no texto. Quero ter a chance de ser feliz como alguém especial, único e singular, que faz coisas incríveis e excepcionais. Espero, ter luz o suficiente em mim, para iluminar as sombras que me rodeiam e também as que possuo dentro de mim, e dessa forma conseguir produzir obras, sejam pinturas em tela, desenhos ou escritos, que de alguma maneira estimulem reflexões, espalhem luz, e, em alguns casos, beleza onde forem vistas ou lidas. E é isso o mais espantoso de tudo: Agora, tenho expectativas para o futuro. E não são simplesmente morrer. Pois acredito que estou aqui por algum motivo. E tenho muito a fazer aqui ainda.
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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Wall-E e Eu



Ei, alguém aí já assistiu, a animação digital, Wall-E, da Disney? Ontem minha melhor amiga Jenny, veio aqui em casa e coloquei para assistirmos. Eu já havia visto o filme (antes do ECT, ou seja, lembrava-me muito pouco) junto com o príncipe, que aliás foi quem me apresentou esse filme, que na época eu nem queria ver. 


Bom, o filme trata de temas sombrios, mas com a leveza característica dos filmes Disney. Em minha opinião, apesar dessa leveza, ele tem uma profundidade como nenhum outro desenho da Disney que eu tenha assistido antes. 


Ele trata da história de um simpático robozinho, chamado Wall-E, que tem a função de coletar e compactar lixo. Wall-E vive em nosso planeta, num futuro possível, onde só sobraram montanhas de lixo compactado da altura de arranha-céus, uma simpática baratinha (afinal, elas sobreviveriam até mesmo a um Holocausto Nuclear, né?) e Wall-E. Os seres humanos fugiram, num cruzeiro no espaço, que deveria durar cinco anos, porém que já dura 700 anos. O planeta Terra, quando da partida dos seres humanos, não estava mais apto a comportar vida. Exceto no caso das baratas. E do Robozinho.


Um dia, Wall-E, encontra uma planta. VIVA e crescendo. Para ele isso nada significa, mas para EVA, a robozinha casca grossa que chega do espaço para coletar qualquer coisa que indique que a Terra está apta novamente a receber os seres humanos, isso é a missão de sua existência. Seu propósito de vida. Ou não? Então, do encontro dessas duas inteligências artificiais, nasce o amor. E a esperança da Terra.


Não vou contar todo o filme, afinal, daí perde a graça (preguiça).


O Importante é que o filme nos faz pensar sobre esperança (para mim, que já tentei o suicídio duas vezes, isso é muito positivo).


Também sobre solidão. Às vezes eu sinto como se estivesse sozinho, exatamente como Wall-E, mesmo que no meu caso esteja em um mundo cheio de gente.


Amor, afinal, ele pode nascer das formas mais inusitadas, desde que tenhamos perseverança.


Aliás, perseverança, é tudo na vida. Sem elas, não há amor ou esperança que salve.


O filme também fala de alienação. De como nos deixamos ser manipulados e enganados pela grande massa. “Vermelho é o novo azul”


A parte em que EVA descobre tudo que Wall-E passou para salvá-la, é especialmente tocante, pois ela se coloca no lugar dele e a questionar sua programação, sua missão e suas prioridades.


Me fez pensar em como devemos valorizar o mundo que (ainda) temos.


O que mais me comoveu, no entanto, foi quando o Wall-E sofre um dano mais grave e acaba voltando a sua programação original, esquecendo de EVA e de tudo mais que viveu. Achando ser apenas, novamente um compactador de lixo. Uma espécie de HARD RESET. Foi assim que me senti quando fiz o ECT. Como se tivessem resetado meu cérebro para versão de fabrica. Agora, estou aos poucos lembrando das coisas que me mencionam ou contam, mas a verdade é que é estranhíssimo. TUDO. No geral é positivo o resultado. Mas essa amnésia que vem junto com os benefícios é extremamente perturbadora. Por isso disse que de certa forma me sinto mutilado. 


Chorei assistindo, mas ao mesmo tempo senti esperança, perseverança e também AMOR. Pelo mundo, pela natureza, por quem me rodeia, pela minha família, pelo Príncipe e até mesmo pelas baratinhas resilientes.


Portanto, recomendo o filme. Animação de ótima qualidade e dá o que pensar. Beijos aos que lerem.
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domingo, 6 de setembro de 2015

Príncipe



Sabem, perdi no início de 2014, para um câncer galopante, meu ultimo namorado. Isso tem feito com que reflita sobre uma série de coisas. Fiz algumas anotações que quero dividir com vocês.


Primeiro foram algumas percepções sobre o “Príncipe”, como vou chamá-lo.


Tive um(a merda de) namorado, anterior ao príncipe, que me salvou uma vez de um assalto. Ignorante como eu era, algumas vezes, já namorando o “Príncipe”, os comparava, pensando que o príncipe nunca me salvara de uma assalto. Hoje vejo que o príncipe, de diversas outras maneiras, salvou-me 10, 20, 30 vezes.

E passou quase todo nosso namoro me protegendo das mais diversas formas. Na verdade ele foi meu protetor desde que o conheci, até o dia em que o vi vivo pela última vez. Ele me amou e cuidou de mim, mesmo após o “término” de nosso namoro. Ele me mostrou o verdadeiro significado de amor incondicional, cuidado, proteção, respeito e devoção. Sem esquecer do companheirismo, é claro.


Mesmo durante sua doença, ele tentava me poupar, me entender e me proteger da situação toda.


Tendo feito essa constatação, não pude deixar de criar a lista abaixo. 






COISAS QUE EU TERIA FEITO DIFERENTE:


· Teria beijado sua boca perfeitamente cuidada;


· Teria feito mais alguns dos passeios pelos quais ele tanto ansiava e visitado seus amigos;


· Teria ido junto com ele e a família naquele passeio no centrinho da praia, como ele tanto queria;


· Teria caminhado com ele;


· Teria dito mais vezes o quanto seu sorriso e seus olhos eram bonitos;


· Não teria jogado aquela bandeja de amendoim, que ele comprou com tanto carinho, no lixo;


· Teria aceitado, ficado feliz, e jamais teria comparado com a que eu ganhei daquela outra criatura, a pantufas com as quais ele queria me presentear;


· Teria valorizado o perfume que ele me deu;


· Teria valorizado ainda mais o Fofo, o Winnie e o Charles, sem jamais deixar que as palavras de outras pessoas negativassem minha opinião;


· Teria dito e demonstrado mais vezes o quanto o amava. 


Mas o passado, ao menos por enquanto e até onde sabemos, é imutável. O que posso fazer é lembrá-lo. E procurar,dentro do possível, não cometer erros parecidos no futuro, com outras pessoas que eu um dia venha amar. Espero que onde o Príncipe está, saiba disso. O quanto me ensinou, o quanto acrescentou na minha vida. Conhecê-lo e tê-lo amado e sido amado em retorno, foi uma das experiências mais enriquecedoras que vivi. E ele foi e continua sendo importante na minha vida. Mesmo que não esteja mais no plano físico, sei que continua sendo um príncipe como foi comigo, com sua familia , enfim, com todos que tiveram a sorte de cruzar sua vida e cativá-lo. 


Príncipe, obrigado e te amo. Beijos ao que lerem.
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Paranóia Singular





Tava tudo muito bom para ser verdade. A paranóia voltou. 


Não que ela tivesse sumido, Claro que ainda sentia pensamentos paranóicos, a diferença é que o impacto deles sobre mim parecia estar bem menor agora. Também eles diminuíram, consideravelmente, em frequência. Mas ainda enchiam. 


Só que hoje de manhã, senti um pensamento desses incomodar novamente, com muita força. Quer dizer, eu digo que é um pensamento paranóico, porque de certa forma duvido do fato de ele ser paranóico. Tem um lado meu que pensa que ele é real, o lado que faz eu ir lá no modem e desligá-lo para ver o que acontece. “Será que meu pai, ou outras pessoas que estão tentando me manipular, através do controle de meu aparatos tecnológicos e das minhas redes sociais, vão conseguir caso eu reinicie o modem?” Me pergunto. Depois eu mesmo respondo. “Provalmente, sim, mas pelo menos vou atrapalhá-los e incomodar de alguma forma.” 


Isso por que o computador, mais uma vez, não me obedecia. E começo a imaginar que é alguém (provavelmente meu pai), que o está controlando remotamente. Daí dá vontade (chego a me imaginar fazendo) de quebrar o computador dele e de todo mundo aqui em casa. Pois os meus estragaram, o que também imagino ser obra de outra pessoa (como meu pai). E daí minha cabeça vai longe. Não me perguntem as motivações para ele fazer isso, pois podem ser tantas. Afinal, sou filho dele, gay, esquizoafetivo, dependente químico, não estou trabalhando fora, minha arte ainda não começou a me dar lucro, moro com ele e sou sustentando por ele e minha mãe.


Mas tem diversos motivos pelos quais ele NÃO faria isso. Achar essas motivações, é a ferramenta que me faltava para diferenciar a paranóia, da realidade. Pois as motivações do “NÃO” acho bem mais difíceis de encontrar, do que as do “SIM”. Depois do ECT melhorou bastante, mas fazer esse discernimento ainda não é fácil. Até consigo diferenciar, só que não tanto pela lógica, mas por outro motivo.


Estou mais “manso”. O “COMBO” medicamentos+ECT+internação tiveram esse efeito. Consigo, de certa forma, “aguentar no osso”. Muitas vezes, quando vem esses pensamentos, não analiso mais. Apenas pego-os em minhas mãos e guardo no fundo do baú, que fica no fundo do armário, do fundo do porão, do fundo da minha mente. Se isso é positivo ou negativo, só o tempo dirá. Por enquanto, é o que me ajuda a ficar em paz com quem me rodeia.


Claro que, de certa forma, me sinto mutilado por isso. Como se estivesse me anulando. Muito mais mutilado do que quando eu cortava meus antebraços. 


Pelo menos, agora não estou paralisado por conta das “paranóias”. Estou produzindo, escrevendo, lendo e não só desenhando, mas também pintado. Talvez a verdade seja que eu convivi tanto tempo com minha doença, que (ainda) não sei como agir, agora que seu funcionamento não predomina. Confesso, no entanto, que morro de medo que, com a doença, vá junto meu diferencial, minha luz própria, meu brilho, minha singularidade. Aquilo que me torna único. Penso: “Talvez ser manso, seja o normal, o mais comum. Mas será que eu quero ser normal? Será que quero meu encaixar naquilo que é comum? Mas me pergunto se vale a pena ser único a um preço tão alto?”


Fica a dúvida. Beijos aos que lerem.


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sábado, 5 de setembro de 2015

REFLEXÕES DE UMA MENTE DESNORTEADA

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Fobias



Hoje ,meus pais e eu viemos na casa dos meus avós para almoçarmos juntos e passar o dia. Chegando, nos avisaram que meus tios viriam também.

Amo meus tios, mas infelizmente tenho uma coisa chamada fobia social. Pouquíssimas são as pessoas, mesmo dentre as que mais amo, que não me ativam esse “mecanismo” comportamental. Então, analisando minhas lembranças, percebi que a fobia social é, para mim, problema muito mais antigo do que eu pensava. Creio que veio desde a infância. Lembro-me que na maior parte das festas e reuniões a que eu comparecia, sentia-me deslocado, isolado, mesmo quando cercado de pessoas. Na verdade, quanto mais pessoas houvessem ao meu redor, maior a sensação de inadequação que eu sentia. Acabava, então, fugindo para um canto onde ficava lendo, ou desenhando, ou escrevendo, e, como dizem hoje em dia, “apenax observando”.

Claro que houveram períodos em que consegui socializar melhor, mas não era o que predominava em meu comportamento e sentimentos. E olha que essas festas em sua maioria eram de família ou similares.

Isso não parou quando cresci. Na verdade, a medida que eu ia me descobrindo e entrando na adolescência, foi se acentuando, o que fazia eu descontar as ansiedades, e tristezas decorrentes disso na comida, depois no cigarro, no álcool e, por fim, na maconha.

Não pensem, no entanto, que essas substâncias realmente me ajudavam a socializar. Quando eu não estava no pronto socorro por chegar quase ao ponto de coma alcoólico, estava chapado dentro de alguma boate, num canto “viajando”. Sozinho. Acabei conhecendo algumas pessoas assim, é claro, mas acho q se estivesse “de cara”, talvez tivesse conhecido pessoas diferentes, feito escolhas diferentes, e talvez muitas coisas em minha vida houvessem sido diferente. Tudo isso é hipotético, claro. Nem vale a pena discutir, mas me parecem possibilidades razoáveis.

O que interessa, é que além de apenas mascarar os problemas, as drogas que (ab)usei, a longo prazo, desencadearam meu primeiro surto psicótico e agravaram muito mais meu problemas de fobias, paranoias e transtornos de humor. Se hoje minha doença evoluiu para meu diagnóstico atual, agradeço boa parte a THC.

Graças a Deus, alguns anos atrás, tornei-me abstêmio e até mesmo o cigarro consegui largar.

Agora, espero que a eletroconvulsoterapia (ECT), a qual me submeti, me ajude a vencer meus fantasmas, fobias e monstros internos (como a Doença da Dependência Química). Espero conseguir conviver com pessoas novas e, sem contar os minutos antes de dar uma desculpa e fugir, apreciar suas companhias como um sopro de ar fresco em meu isolamento. Espero conseguir andar na rua sem ficar apavorado. Mas, acima de tudo, espero sentir meu coração sadio o suficiente para poder me apaixonar, amar de novo, me divertir. Enfim, VIVER!

Peço que torçam por mim. Beijos ao que lerem.

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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

"Novo"



Tudo parece novo. 

Não sei se é por conta das medicações estarem bem ajustadas, por eu ter feito as sessões de ECT ou ainda por causa do período que passei internado, com outra rotina e convivendo com outras pessoas que não minha família. 

O ponto é que está tudo parecendo mudado em vários aspectos e, aparentemente, para melhor. 

O que mais me chamou atenção foi como tornou-se (ainda) mais prazeroso para mim ouvir música, que é uma das minhas maiores paixões. Algumas músicas que eu não andava mais gostando, estão me chamando muita atenção agora, mais uma vez e outras, de artistas que gosto, mas os quais não andava curtindo seu material mais recente, acabei começando a gostar depois de ouvir novamente. Não sei bem se isso significa que estou me tornando um conformista, que se contenta com qualquer coisa, ou que estou evoluindo com o mundo, pois a música está sempre em constante mutação e evolução, suponho. 

Me sinto mais disposto também para ler, para escrever, para as artes plásticas, seja através de minhas telas ou em desenhos. 


Até mesmo para executar algumas tarefas do dia a dia que às vezes cabem a mim. 


Ontem fui na psicóloga e li para ela alguns trechos dos textos que produzi durante a internação. conversamos sobre as coisas lidas e chegamos à conclusão de que talvez seja produtivo se eu expor de alguma forma aquilo que escrevo. A maneira que mais me agradou de fazer isso, foi um blog e por isso estou aqui. Assim nasceu essa página. 

Espero conseguir escrever coisas interessantes que vocês apreciem. Ou não. Daí depende quem é o leitor também, né.

Bom, vou ficando por aqui. Depois escrevo mais. 


Mas, só para finalizar, realmente tudo parece novo, como disse no início. 

Algumas coisas tenho certeza que são, entre elas, minha vida. Sinto estar em um novo começo, devido a minha nova forma de encarar o mundo. Afinal, se a vida é feita de ciclos, estamos sempre terminando algo e começando coisas novas. Como esse blog que espero me ajude a evoluir cada vez mais. Beijos aos que lerem.
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