domingo, 6 de setembro de 2015

Paranóia Singular





Tava tudo muito bom para ser verdade. A paranóia voltou. 


Não que ela tivesse sumido, Claro que ainda sentia pensamentos paranóicos, a diferença é que o impacto deles sobre mim parecia estar bem menor agora. Também eles diminuíram, consideravelmente, em frequência. Mas ainda enchiam. 


Só que hoje de manhã, senti um pensamento desses incomodar novamente, com muita força. Quer dizer, eu digo que é um pensamento paranóico, porque de certa forma duvido do fato de ele ser paranóico. Tem um lado meu que pensa que ele é real, o lado que faz eu ir lá no modem e desligá-lo para ver o que acontece. “Será que meu pai, ou outras pessoas que estão tentando me manipular, através do controle de meu aparatos tecnológicos e das minhas redes sociais, vão conseguir caso eu reinicie o modem?” Me pergunto. Depois eu mesmo respondo. “Provalmente, sim, mas pelo menos vou atrapalhá-los e incomodar de alguma forma.” 


Isso por que o computador, mais uma vez, não me obedecia. E começo a imaginar que é alguém (provavelmente meu pai), que o está controlando remotamente. Daí dá vontade (chego a me imaginar fazendo) de quebrar o computador dele e de todo mundo aqui em casa. Pois os meus estragaram, o que também imagino ser obra de outra pessoa (como meu pai). E daí minha cabeça vai longe. Não me perguntem as motivações para ele fazer isso, pois podem ser tantas. Afinal, sou filho dele, gay, esquizoafetivo, dependente químico, não estou trabalhando fora, minha arte ainda não começou a me dar lucro, moro com ele e sou sustentando por ele e minha mãe.


Mas tem diversos motivos pelos quais ele NÃO faria isso. Achar essas motivações, é a ferramenta que me faltava para diferenciar a paranóia, da realidade. Pois as motivações do “NÃO” acho bem mais difíceis de encontrar, do que as do “SIM”. Depois do ECT melhorou bastante, mas fazer esse discernimento ainda não é fácil. Até consigo diferenciar, só que não tanto pela lógica, mas por outro motivo.


Estou mais “manso”. O “COMBO” medicamentos+ECT+internação tiveram esse efeito. Consigo, de certa forma, “aguentar no osso”. Muitas vezes, quando vem esses pensamentos, não analiso mais. Apenas pego-os em minhas mãos e guardo no fundo do baú, que fica no fundo do armário, do fundo do porão, do fundo da minha mente. Se isso é positivo ou negativo, só o tempo dirá. Por enquanto, é o que me ajuda a ficar em paz com quem me rodeia.


Claro que, de certa forma, me sinto mutilado por isso. Como se estivesse me anulando. Muito mais mutilado do que quando eu cortava meus antebraços. 


Pelo menos, agora não estou paralisado por conta das “paranóias”. Estou produzindo, escrevendo, lendo e não só desenhando, mas também pintado. Talvez a verdade seja que eu convivi tanto tempo com minha doença, que (ainda) não sei como agir, agora que seu funcionamento não predomina. Confesso, no entanto, que morro de medo que, com a doença, vá junto meu diferencial, minha luz própria, meu brilho, minha singularidade. Aquilo que me torna único. Penso: “Talvez ser manso, seja o normal, o mais comum. Mas será que eu quero ser normal? Será que quero meu encaixar naquilo que é comum? Mas me pergunto se vale a pena ser único a um preço tão alto?”


Fica a dúvida. Beijos aos que lerem.


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