quarta-feira, 11 de abril de 2018

Peso Morto


EU sou um peso. Um peso morto. É como eu me sinto em relação a vida. MORTO. E um peso.  

Nada realmente tem sentido. Nunca teve para mim.  Talvez por isso tenha tentado sempre fugir dela a todo custo. Seja por meio das drogas ou tentando suicidar-me.  
Não posso aguentar mais ECTs. Não posso mais esquecer e viver a vida como um bobo alegre. Mas também não aguento conviver com os sintomas e as implicações da minha doença. Ou com a verdade, pois não sei mais o que é o que. Tudo parece a mesma merda. Realidade se mistura com mentiras que minha mente me conta. Isso, caso sejam mentiras. Elas fazem eu ter vontade de machucar as outras pessoas e,  como eu não posso, não consigo fazer isso, ela faz como que eu resolva me machucar.
Como poderia eu me defender de mim mesmo. Quem ia lutar contra quem. Pois sou um só. A doença já faz parte de mim. A doença é o que eu sou. 
As pessoas, principalmente meu pai, perguntam por que pinto mais quadros sombrios, do que alegres. É por que pinto sobre minha vida. E minha vida é a doença. Ainda que esteja um sol lindo brilhante, e eu esteja sorrindo, num lindo jardim, com lindas flores coloridas e arbustos, e um lindo gramado e lindas e frondosas árvores com folhas de um lindo e vivo verde, isso é por fora. O sol ilumina minha superfície, mas por dentro, só há sombras. As sombras estão sempre dentro de mim. E minha única chance, é colocá-las para fora na minha arte. Só assim permanecerei vivo. Só assim, elas não irão vencer. Ainda que não seja o que parece quando o quadro está pronto, ele evita que a escuridão se propague ainda mais. Que eu seja completamente consumido por ela. Minhas obras, principalmente as escuras e sombrias e tétricas, geram a única luz que consegue iluminar o que carrego dentro de mim. Iluminar os recônditos escuros da minha alma.
Digo que sou um peso, pelo fato bem simples de eu não ter estabilidade ou constância para me sustentar e gerir minha vida. Preciso ficar dependendo de outras pessoas. Sim, eu sei que todos de um forma ou outra dependemos de outras pessoas, mas falo de depender completamente. Se meu pais morressem hoje, eu estaria completamente desamparado. Talvez meu irmão mais novo tentasse me ajudar, só que isso seria mais humilhantes ainda do que depender dos meus pais. Tem gente que me acha um sem vergonha, bem, que não se preocupem, eu sinto vergonha, apenas não costumo externá-la. Seria dar munição ao inimigo. Que inimigo? O mundo. A sociedade. 
Como disse sou um peso. Um peso morto. Também chamado por outros nomes, presente em tantas frases do meu pai, que eu finjo não saber que serem direcionadas a mim, assim como ele finge não se referirem a mim: Vagabundo. Marginal. 
Ou outras palavras que vejo formarem-se no olhar de tantas outras pessoas, ao falarem comigo: Retardado. Louco. Maluco.
Mas me chamo de algo diferente.
UM PESO.
Um peso, como vai acontecer com todo mundo um dia, MORTO.
Só que no meu caso é em VIDA. Até eu resolver aliviá-los.

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