sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Motivações de Um (Quase) Suicídio



O texto abaixo também trata de suicídio. Do que eu buscava (ou achava que buscava) nele. Escrevi-o depois da minha tentativa mal sucedida e antes da minha internação e das sessões de Eletroconvulsoterapia.






“Quando tomei os comprimidos minhas intenções eram:


1. Ser salvo (vivo ou morto) ;


2. Ser livre (vivo ou morto);


3. Acabar com a dor (ou melhor, as dores, pois são muitas);


4. Acabar com os arrependimentos, as máscaras;


5. Exterminar as vozes que me dizem o que não fazer e, o que de ruim vai acontecer, se eu fizer; Que muitas vezes me paralisam, mesmo que o GuiB. saudável saiba que é quase tudo mentiras, medos (muitos sem fundamentos) ou então apenas vagas possibilidades;


6. Eu queria também esquecer. Acabar com a falta, a saudade, com a sensação de ter o coração arrancado sem praticamente nenhum aviso. 


7. O remédio que usei na minha tentativa causa esquecimento, creio que por isso o escolhi. Eu tenho tido muitos possíveis esquecimentos. Mas como sou paranoico, não confio em quase ninguém, fica difícil definir o que é esquecimento mesmo. Chegou ao nível do desespero onde tudo o que eu queria era esquecer tudo e todos e sentir paz, não desconfiança e descrença dos que me cercam. Ir para um lugar onde poderia confiar em todos ou apenas a dor vai parar. As dores. E vou poder esquecer o que quiser, que alguém vai me mostrar, daquilo que eu esqueci, apenas o que ajuda e importa, e eu vou acreditar. Onde não vão me ludibriar. “


E lendo isso, vi que existe sim esperança. Não preciso morrer, mesmo que as vezes meu cérebro tente dizer o contrário.


Não estou salvo, nem sou livre, mas desde que fiz o ECT, a dor, as dores, diminuíram consideravelmente. 


Estou lidando melhor com os arrependimentos. 


Ainda os sinto, mas procuro usá-los para me ensinar. Para não repeti-los com um possível novo amor no futuro, ou seja lá com quem for.


As vozes, ainda estão presentes, mas agora consigo discernir melhor a hora de dar atenção a elas ou não.


Os medos estou enfrentando, mesmo que lentamente, mas estou. Coisas como ir na padaria e conversar meia dúzia de palavras com a atendente, sorrindo e sendo simpático, não estão mais fáceis, mas eu estou mais forte e lutando contra a fobia social. 


Quanto ao coração arrancado, o jeito é me virar como posso sem ele e esperar a ferida cicatrizar. Mas a cicatriz estará sempre lá. E é bom, não quero mesmo esquecê-lo. Cheguei a essa conclusão. Deixa-lo ir, é uma coisa, mas fingir que nada aconteceu, é impossível para mim. Não há ECT que apague um amor como o que vivemos o Príncipe e eu.


Mas a Eletroconvulsoterapia ajuda a esquecer, em outros casos. Esqueci de muitas coisas, exatamente como disse no fim do textinho que desejava que acontecesse com meu suicidio. Mas elas ainda estão no meu cérebro, isso eu já descobri. Às vezes, quando me falam de algo que não lembro, acabo lembrando do resto da história. Mas no geral, sozinho, lembro apenas do que realmente importa. Meu pensamentos estão muito mais construtivos e criativos. 






Quero dizer, com essa postagem, que existe esperança de felicidade para um suicida. E não, não precisa ser morto. Se alguém, que não tentou se matar, me dissesse isso, eu diria que é balela, menosprezaria, afinal, pensaria eu: “a verdade é que essa pessoa não entende nada, não sabe pelo que estou passando”. Mas eu tentei, e fico feliz de dizer que não deu certo. Outras coisas, no entanto, deram, como o ECT e o ajuste de medicamentos. E tenho que repetir: Existe esperança de felicidade para um suicida, e esta não é a morte. Beijos aos que lerem.

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