quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Paranóia Matinal



Ontem de manhã tive uma pequena grande amostra de como pode um dia ser minha vida. Revivi a forma como ela estava antes da internação e do ECT.

Primeiro foi a minha água. Costumo tomar água direto de uma garrafa de 1,5 que encho naquelas bomba de 20 litros que temos aqui em casa. Várias vezes procurava minha água e quando me dava conta estava em algum lugar da cozinha, ou da sala, próximo do local onde Clarisse, a moça que trabalha para nós, estava ou fica grande parte do tempo. E normalmente, quando a encontro tem apenas um quarto da quantidade de água da garrafa. E eu tenho um problema sério de urgência na hora de urinar. Daí, somei 2 e 2 e deu 5,obviamente. Ela coloca diurético na minha água. Feita essa constatação, que já é antiga, pois antes do ECT eu concluíra a mesma coisa, abriu-se um leque de outras possibilidades.

Uma de minhas gatinhas, de acordo com minha percepção, fica meio”lerda e deprimida”, quando Clarisse está aqui. Minha gatinha também está bem mais magrinha, comendo normalmente. Logo, fica óbvio, nossa funcionaria está dando veneno para ela!

Também é um saco o que passou a acontecer com nossos aparatos eletrônicos que possuem cabos. Os cabos dos meus fones quebrando, do mouse e dos carregadores da minha mãe tendo o fio desencapado e por aí vai. Os controles remotos funcionando com muita dificuldade, tendo que apertar os botões lá no fundo, mesmo quando trocamos as pilhas.

E então eu percebo que não tomei os meus remédios nessa manhã. Às 11 horas.

Sabe o que é mais difícil? É você pensar isso tudo de uma pessoa que você gosta. Que no geral sempre que pôde, “ até onde você tem certeza”, foi legal com você. Tratou você bem, conversou, foi amigável. Daí eu penso que não adianta, até do meu pai e da minha mãe penso coisas absurdas, que não me parecem absurdas, no entanto. A única coisa que me faz ter um discernimento e chamá-las de absurdas (não considerá-las, veja bem), são os medicamentos. Eles me presenteiam com o benefício da dúvida nesses casos.

Por que mesmo quando os utilizo, continuo tendo esse tipo de sentimento, o que muda é a relevância que eles tem para mim e para meu dia. O que muda, é que consigo, mesmo cheio de dúvidas, ser amigo da Clarisse e tratá-la com carinho. O que muda é que consigo tratar meu pais com, bem, como meus pais.

O que posso dizer? Maldita genética, maldita maconha, maldito câncer (que leva aqueles que amamos), maldito transtorno esquizoafetivo!

Ou se for tudo realidade, maldita Clarisse, malditos pais, maldito câncer (que leva aqueles que amamos), maldita conspiração!

E ao analisarmos vemos que a única coisa em comum em “ambas realidades”, é o maldito câncer, que leva aqueles que amamos. Que levou meu “Príncipe Improvável”. Mesmo isso, houve vezes que duvidei (e adorei sentir essa dúvida), que ele tenha realmente morrido. Cogitei se não foi tudo um teatro. Mesmo aquela cena no hospital, quando vi o corpo dele funcionando a base de aparelhos e pensei “Ele não está mais aí”. Quando eu olhei e percebi, que dissessem o que dissessem, quando segurei a mão dele e rezei e disse o quanto o amava, entre outras coisas, ele já estava morto. Só o que restara era uma casca vazia. Mesmo aquele corpo no caixão, que para mim nada mais era que um boneco de cera.

O mais difícil, é que as pessoas que olham de fora, nem imaginam todo esse mundo que se passa dentro de mim. E mesmo pessoas que deveriam saber, ou pelos menos imaginar, quando eu começo a falar sobre alguns desses pensamentos, ao invés de me ajudar, seja ajudando a enxergar além ou apenas ouvindo, preferem me censurar, chingar e tentar me fazer sentir uma merda inútil e ingrata que reclama de barriga cheia.

E é isso aí por hoje. Beijos aos que lerem.

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