sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Amor



Por fim, tomei a decisão. Resolvi arriscar. Estou namorando meu amigo. Quer dizer, talvez agora deva chamá-lo de namorado. Mas a frase “Estou namorando meu namorado” ficaria feia e estranha. Além do mais, ficaria difícil de vocês saberem de quem estou falando, já que os personagens mais conhecidos daqueles que já leram meu blog são o “meu amigo” e o “meu ex-namorado” (esse último também conhecido simplesmente por “meu ex”). Até o momento não existia um personagem chamado “meu namorado”, e confesso que ainda terei de acostumar-me com a mudança de nome (aqui no blog) e de posto (na minha vida) do meu amigo. Ou melhor, do meu namorado, para já começar a chamá-lo assim. Estou começando a pensar seriamente em criar nomes fictícios para os personagens que povoam meus relatos, ao invés de nomeá-los pelos postos que ocupam na minha vida. Se bem que acho que isso poderia confundir novos leitores e também acho que seria difícil para mim de escrever com fluência, chamando os personagens por nomes que não são os que estou acostumado a usar. Sei lá, vou pensar um pouco nisso.


Voltando ao assunto, comecei a namorar o meu amigo nesse fim-de-semana que passou. Na prática, não mudou muita coisa, nosso relacionamento anterior já parecia muito com um namoro, mas confesso que eu sinto-me diferente. De uma forma positiva. Sinto-me mais leve, como se realmente estivesse fazendo a coisa certa dessa vez. E a vontade de ver meu ex, apesar de não ter sumido, diminuiu consideravelmente. Perdeu força e parece cada vez mais uma má idéia, apenas um mecanismo de auto-boicote que aparece quando estou começando a ir bem. Tipo, na verdade sou bem diferente daquilo que aparento externamente, sou inseguro e minha auto-estima tem muitas oscilações, altos e baixos. Tenho dificuldade de aceitar que mereço algo de bom, pois uma parte de mim se considera má. Por isso, quando estou recebendo algo bom demais, crio barreiras e tento estragar aquela coisa boa. Aquela repulsa que eu disse que sinto na hora do sexo por homens que realmente me tratam bem, que são legais comigo e me vêem como mais do que um pedaço de carne, é uma barreira que eu mesmo criei e somente eu posso vencê-la. E eu estou conseguindo isso. E esse desespero que às vezes sinto para ver meu ex, é minha auto-estima doente, buscando aquilo que julga merecer.


Já conversei por diversas vezes com minha psicóloga sobre aquilo que meu ex causa em mim, sobre o quê sinto, e que costumo chamar de amor e ela sempre me questiona com uma mesma pergunta, quando descrevo meus sentimentos: “Você acha realmente que ISSO é amor? Você realmente julga que o amor é ASSIM?”


E eu, naquele meu funcionamento de auto-boicote, respondo que sim, isso é amor. Mas não respondo com segurança. Não respondo com verdade. Chega uma hora, quando diversas pessoas lhe dizem repetidamente uma mesma coisa, que você começa a se questionar se ela não é mesmo verdade. Pensa que talvez não seja amor. Talvez seja uma obsessão, um sentimento doentio, que me coloca num jogo doentio e me faz agir de forma doentia, até que tudo chega a um clímax doentio. Na nossa história já houveram alguns clímaces, como agressões físicas, minha recaída nas drogas durante nossa relação, minha posterior tentativa de suicídio, até chegar ao surto psicótico que tive. Está certo, eu tenho uma doença. Mas meu ex também tem. E o problema é que nossa relação também tem. Nossa relação e nossas doenças se misturam, e cada um de nós joga o outro cada vez mais para o fundo do poço de nossas doenças, até não restar mais nada além de dor e escuridão. Daí nos separamos. Só que então, um de nós procura o outro, acabamos voltando a ficar juntos, até que haja outro clímax. O último clímax que houve foi meu surto psicótico e o surgimento do fanatismo religioso do meu ex. Eu não pude suportar enfrentar ambas as coisas ao mesmo tempo, por isso terminei. O resto da história vocês sabem, ele agora diz que virou heterossexual e não namora mais homens, mas sempre que nos encontramos, transa comigo. Só que se agora eu sei de tudo isso que disse acima, minha função, como ser humano em constante evolução, e, principalmente, como um doente em tratamento, não é simplesmente aceitar isso como fato da vida e me render, mas sim lutar contra com todas minhas forças até vencer. Essa é a coisa certa, isso que é o melhor para mim e é o que resolvi fazer.


Namorar o meu amigo, foi uma decisão nesse sentido. Estou indo em direção ao que é bom para mim. Meu namorado (chamei de amigo antes, mas foi por que ainda estou me acostumando) me dá muitas coisas boas, como companheirismo, amizade verdadeira, cuidados e preocupação genuína com meu bem estar. Além de muito prazer na cama. Ainda sinto um pouco de repulsa, é verdade, mas também descobri que sinto muito prazer com ele. Na verdade de uma forma que ninguém me fez sentir antes. Eu poderia dizer, que meu amigo está me ensinando a RECEBER prazer. Antes, sempre era eu a dar prazer para os homens. Claro que sentia prazer nisso, mas o PRAZER (assim, com letras maiúsculas) de ter alguém preocupado com o meu prazer, em explorar o meu corpo, realmente consciente de minhas reações, é algo relativamente novo para mim. Nisso, eu sinto-me como um virgem sendo ensinado. E essa sensação é maravilhosa.


Tá, agora você diz, mas você gosta apenas do que ele lhe dá? Mas e o que ele é? Aí que está. Ele é exatamente o que ele me dá. Ele se doa a mim. Ele é uma pessoa doce, gentil, romântica, carinhosa, protetora, sempre preocupada em agradar aos outros e que adora dar presentes. Claro que tem seus defeitos, e provavelmente falarei deles aqui no futuro (namoro é assim), mas eu gosto da pessoa que ele é. E muito.


Ainda não tenho coragem de dizer para ele que o amo. Não sei se o quê sinto é amor. Mas nunca fui muito bom nisso. Talvez eu não saiba o quê é o amor. Talvez eu nunca o tenha sentido, talvez nunca vá sentir por ninguém, talvez não seja capaz. Às vezes acho que eu não reconheceria o amor, mesmo que ele batesse na minha cara. Mas será que isso importa realmente? Será que eu saber que aquilo que sinto por ele é justificativa o suficiente para ficarmos juntos, mesmo não sabendo nomear o sentimento, não é o suficiente? Só o tempo dirá. E talvez, no final, eu descubra que esse sentimento que não sei nomear é o amor. Talvez um amor que só está esperando eu vencer todas essas barreiras que coloquei, para mostrar-se com toda sua força. Ah, esqueci de dizer uma das qualidades do meu amigo: ele é super paciente. Então, se for para acontecer de amá-lo futuramente ou de descobrir que o amo desde o início, mesmo que demore, vai acontecer.


Dúvidas? Todo mundo tem. Meu amigo deve ter as dele também. O que importa é que mesmo assim estamos indo em frente. E me sinto ótimo. E, principalmente, me sinto no caminho certo. Beijos aos que lerem.

8 comentários:

Rafael Luz disse...

Bons textos, bom post. :)
Um abraço.

Raisa Barcelos disse...

Texto legal.Perdoe-me a intromissão,nunca havia passado por aqui antes mas agora pretendo vir com frequencia.Escreve bem,se expressa bem.De fato dúvidas todos nós temos e sempre teremos,somente os psicóticos tem certeza de tudo.Tb tenho dilemas parecidos com ose seus e acho que muitos tem.Sou heterossexual,o que não nos difere em nada,e tb tenho problemas com "pensamentos no ex" e eu poderia explicar mas seu texto retrata bem oq se passa comigo.A questão é,tb tenho um novo namorado(mas não éramos amigos antes)mas estamos indo em frente e estamos muito bem.Acho que isso é de fato o que importa.Um passo de cada vez e se chega lá.E aonde é lá?Bpm,é exatamente aonde desejamos chegar e cada um sabe qual seu caminho,seu verdadeiro trajeto,mesmo que as vezes se perca ou mude algo.Disse algo interessante,vai passando a lembrança e consequentemente os pensamentos com o passar do tempo e o que sobre somos nós mesmo frente a nós e nossa atual felicidade.Então...q continuemos seguindo em frente.Abç

Marina T. disse...

Ah, Anjo Rebelde .. que coisa maravilhosa de se ler, eu também acho que você esteja fazendo a coisa certa, dando-se uma chance, dando uma chance ao seu amigo [agora namorado! =D]! E eu sei como é sentir que não merece algo, eu mesma costumo dizer que não sou do tipo "gostável", simplesmente pelo fato de não conseguir gostar de quem gosta de mim, por isso me identifico com o que você escreve, já li você dizendo que talvez seja meio masoquista e que gosta do desafio, bem, acho que sou assim também! rsrs! Enfim, acho que você merece sim ser feliz e embora eu não tenha a mínima ideia do que seja amor, torço pra que você o encontre! Seja muito feliz! =D
Beijo. ;*

Aмbзr Ѽ disse...

vou te confessar que no quesito diário pessoal, teu blog é o mais rico que ja li. odeio gente que compartilha abobrinha por falta de assunto e constroi um blog apenas por layout e se esquece de por conteudo.

seus posts me deixam embasbacada; dá vontade de te pedir um conselho, e mesmo que vc nao tenha resposta pra tudo, dá vontade de trocar experiencias, ideias... seus textos são um outro mundo. a realidade.

abraços. sou fã de teu blog.

Anônimo disse...

Eu apóio você =D Acho que merece ser feliz depois do que eu li aqui. Sou fã também.

http://devaneiosdeumalolita.blogspot.com/

mjrmirote disse...

Cara. Minha concpeção d amor é a seguinte. Reciprocidade d benfécio mental, físico e epsiritual. Se a maioria das siatuações entre vc e seu novo namorado acontece iso. Vcs podem ter certeza q estão se amando. Esse tipo d reciprocidade acontece entre amigos, parceiros, colegas, casais e namorados. Entre os ultimos é mais intensso essa reciprocidade. Se a maioria das situações acontece ess reciprocidade. Manda v pq vai ser proveitoso. Procure sempre evitar situações nessa relação q não haja essa recipocidade. E se na maiora parte das situações. Não há essa reciprocidade. Q nem era com seu ex. É melhor terminar a relação. Q não significa q vc deixou d amálo. Pois vai estar querendo o bem a ele. Eu caracterizo o amor. Como o amor construtivo e destrutivo. Com seu ex. Vc tinha um amor destrutivo pra ambos os lados. Com seu amigo e atual namorado agora. O amor é construtivo pra ambos os lados. Mas uma coisa cara. Queria saber só por curiosidade como vc age na cama. Tu és passivo ou ativo? Ou os dois? O q prefere mais ser? Díficil deduzir isso somente pelas sua palavras. Mas vou chutar q vc já tenha sido tanto passivo e ativo. E hj prefere ser passivo. Vc poderia falar sobre sua primeira experiência homosexual no próximo post? Não precisa dar muito detalhes. Eu tb imagino q se algum dia vc ficou com mulher, provavelmente não sentiu nada. Nem num beijo nem numa tranza, se é q tranzou com uma. Abraços.

Camilla Lourenço disse...

Curti muito seus textos, estou te seguindo
beijos

obelloescrivinhador disse...

Primeiro queria agradecer a todos pelos comentários e pelos elogios. Fazem bem para mim e consequentemente para o quê escrevo.

Rafael Luz
Agradeço a visita e pelo elogio.

Amber
Também sou fã do teu blog. Vou te confessar uma coisa: Poesia nunca foi aquilo que costumo ler. Mas acho suas poesias tão bem feitas, tão belas e tu e teu amigo tão talentosos, que acabei virando fã de vocês e do seu blog e por isso quis colocá-lo aqui nos meus favoritos.

Marina e Raisa
Obrigado! Desejo muita felicidade para vocês também. Fico feliz que fiquem felizes por mim.

mjrmirote
Agradeço pelo comentário, mas vou ter que declinar de responder às suas perguntas por enquanto. Talvez no futuro, se eu achar que é pertinente a alguma postagem que estiver escrevendo, eu mencione as respostas às perguntas que você fez. Por enquanto não acho importanto. Quanto ao post que você me pediu para fazer, também respondo: quem sabe no futuro? Mas para isso tenho que me inspirar a escrever sobre aquilo. Daquela me inspirei a escrever minha história sobre meu peso, devido a sua pergunta, mas dessa vez isso não aconteceu. Se escrever agora, sem inspiração, vai sair uma porcaria. Mas agradeço pela visita e achei interessante sua concepção de amor. Abraço para você.