quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Encontro



Então voltei. Fiquei afastado do blog recentemente por diversos motivos. Minha natural preguiça de escrever foi um deles. Além disso, aconteceram algumas coisas que me deixaram tão desnorteado que nem mesmo escrever conseguia. Para piorar tudo, mesmo que estivesse suficientemente bem para escrever, que minha preguiça fosse suplantada por minha necessidade de expressão, ou que meu desespero precisasse tomar forma de palavras escritas, meu computador se encarregava de me desestimular completamente. Primeiro ele ficou lento como uma mula, em seguida deixou de passar da tela inicial do DOS e negava-se a abrir o Windows. E, por fim, o analista de sistemas do meu pai veio aqui e fez o Windows abrir. Mas deixou claro poder fazer apenas isso e que a solução mesmo era jogar nosso velho computador no lixo e comprar um novo. Entendi por que quando tentei mexer nele: o PC ficou MAIS lento ainda que uma mula e quase impossível de se utilizar sem ter um chilique que, se você continuar utilizando, é apenas o prenúncio de uma síncope cardíaca. O notebook da minha mãe ela usa direto, então fica difícil de tê-lo disponível sempre que me dá inspiração e onetbook do meu pai anda com ele em suas andanças enquanto ele faz pela vida, e ele não permite que eu e meus irmãos utilizemos.

Então, não escrevi. Nada disso se até agora, mas hoje achei que fazia tempos demais que não escrevo e me surpreendi que o computador está de bom humor, portanto trabalhando numa velocidade boa. Entenda-se por velocidade boa, eu digitar e as palavras aparecerem imediatamente na tela, não cinco minutos após meus dedos terem deixado o teclado.


Mas vamos aos acontecimentos por ordem cronológica.


Dia 31 de agosto, estava eu sentado no troninho do banheiro da clínica onde faço terapia, atendendo a um chamado da natureza (que veio com uma urgência incrível, não me recriminem por não ter esperado até chegar em casa), enquanto a terapia não começava quando tocou meu celular. Era um número que eu não conhecia (na verdade já havia visto ele, mas não lembrei naquela hora) e quando atendi tive uma surpresa. Ou melhor, um choque. Era meu ex. Ele nunca me liga. Não assim, sem eu ter ligado para ele antes. Não nesses quase dois anos desde que terminamos. Mas lá estava ele me ligando. Não lembro bem das palavras exatas que falamos. Mas acho que foi que foi algo assim:


Ele:


-E aí rapaz?


E eu, sem reconhecer a voz:


-Quem fala?


Ele, surpreso:


-É o fulano. (Ele não disse fulano, disse o nome, mas vou usar fulano para não ter que dizer aqui.)


E eu, mil vezes mais surpreso que ele:


-Oi, fulano!


Daí ele me disse que estava ligando por que “eu havia sumido”.


Eu não respondi e apenas perguntei se ele já tinha arrumado ao carro dele, que eu sabia que da última vez que nos faláramos estava quase indo para o conserto devido à batida. Ele disse que sim. Daí me disse que esse telefone que eu não conhecia era o novo telefone dele. Eu respondi que já sabia, pois havia visto no Facebook dele. Silêncio. Podia ouvir pelo telefone a cabeça dele funcionando para tentar entender como ou por que, se eu tinha o novo telefone dele, eu não havia ligado. Mas não perguntou e nem eu disse.


E ele:


-Bom, então te ligo outra hora, tá?


Eu, levemente irônico:


-Tá. Um beijo.


Ele não gosta de beijos. Nem manda beijos.


-Tchau.


E foi isso. Depois fui para a consulta e contei isso à minha psicóloga. Claro que isso mexeu comigo. Eu sumi? Desde quando um ex-namorado que você encontra apenas de tempos em tempos ficar um mês ou menos sem dar as caras é sumir? O que ele estava sentindo realmente que fez me telefonar? Tesão? Saudades de mim? Do que sei fazer? Preocupação? Amor? Mas isso não era realmente o que interessava. O que interessava era o que eu ia fazer daquilo. Minha vontade, vocês devem imaginar. Encontrar com ele, tocá-lo, acariciá-lo, transar com ele. Mas havia meu namorado. A promessa que eu fiz de ser sincero com ele. A decisão que tomei ao resolver namorá-lo. E o que eu estava começando a perceber que sentia por ele. Fiquei muito confuso.


Quando saí da terapia, não havia realmente nada muito claro na minha cabeça, mas sabia que precisava ver meu ex. Falar com ele. Talvez contar tudo. Liguei para ele com esse intuito e combinamos de nos encontrar naquela noite. Eu estava dividido. Até a hora do encontro minha cabeça ficou povoada pelas imagens de meu ex e meu namorado atual. Não fazia comparações. Já havia feito elas antes e tomado uma decisão com base nelas. Mas agora estava em dúvida se meus sentimentos iam obedecer minhas decisões conscientes, se meus sentimentos por meu namorados iam me dar forças suficientes para resistir aos pelo meu ex. Era uma coisa confusa, meus sentimentos por quem eram mais fortes? Ou talvez, o que era mais forte, meus sentimentos com a força de uma obsessão por meu ex ou meus sentimentos por meu namorado mais meu julgamento racional.


E naquela noite encontrei meu ex. No carro dele, fomos a uma ruazinha tranqüila onde poderíamos conversar (Ou transar. Adoro transar em carros, ele sabe disso, já fizemos muitas vezes).


Conversamos. Resolvi contar a ele que estava namorando, como havia tomado a decisão, contei tudo, menos que antes de começar o namoro com meu amigo nós já transávamos. Ele é carola demais para entender isso. Ele me contou coisas também. Disse que continuava com seus planos de ficar com mulheres, mas se não conseguisse (o quê é provável, já que ele nunca tocou em uma, nem depois que terminamos e ele começou com essa ladainha), ia ficar sozinho mesmo. Imagina, sozinho pelo resto da vida. E o pior é que ele falava sério. Daí entendi por que ele me ligara. Seria muito confortável para ele, ficar sozinho pelo resto da vida, se ele tivesse alguém, um homem, eu, para suprir suas necessidades sexuais sem implicar necessariamente no compromisso de um relacionamento. Alguém que o seduzisse, que o fizesse pecar, como se caísse em tentação, mas em quem pudesse colocar a culpa que sentiria depois. Alguém para aliviar a culpa que ele sente por ser humano, homossexual, com necessidades humanas e de um homossexual. Ele também disse que havia algo em mim que atraía ele quando estávamos juntos e que na verdade o atraía ainda agora, que era "uma certa carência de outros pontos de vista que eu tinha." Daí eu pensei nos meus pais, cultos, letrados, que me criaram para o mundo, me ensinaram o hábito da leitura, me deram todos os instrumentos para nunca ficar carente de outros pontos de vista, na minha cabeça aberta, mutável e não pude evitar de comparar com os deles, fanáticos religiosos que o criaram apenas para Deus, para Jesus, para a Bíblia, para o Céu, a Redenção, o Fim do Mundo, o Julgamento Final. Que lhe deram apenas noções de pecado, e Diabo, e Deus, Mal versus bem e por aí vai. E me deu vontade de rir, por que uma das coisas que me atraía nele era exatamente essa carência dele de outros pontos de vista. Eu achava que tinha que salvá-lo disso, mudar sua cabeça, abri-la para novos conceitos. Mas ele acha que eu é que preciso ser salvo. Não é cômico?


Em meio a tudo isso eu sentia muita vontade de tocá-lo, de transar com ele uma última e derradeira vez. Mas não ousei tocar nele. Nossa situação é ridícula, é triste. Nós ainda nos amamos, mas um quer salvar outro de si mesmo, da forma mais oposta possível e nunca poderia dar certo. É como se fossemos um o amor da vida do outro, mas não pudéssemos, não devêssemos, nunca, jamais ficar juntos se quisermos ser felizes nessa vida. E eu sei que nunca vou esquecê-lo e ele, ao que tudo indica, também nunca vai me esquecer. Mas superá-lo, já é outra história. Eu vou superar o que sinto por ele, mesmo que jamais o esqueça.


Naquele dia, só tive coragem de tocá-lo quando ele parou o carro na frente do meu prédio para eu desembarcar. Antes de descer, segurei sua mão e apertei levemente.


Ele ainda brincou:


-Agora você não pode fazer isso. - Mas apertou a minha também.


Quando dei tchau ele disse:


-Então, a gente se vê.


E eu:


-Não, a gente não se vê.


Ele então me olhou então com uma cara de deboche e disse.


-Como não? Esqueceu que você não me mostrou o filme que íamos ver ainda?


Primeiro pensei que ele não tinha entendido nada sobre o encontro, mas depois, olhando para a cara dele me dei conta que não era isso. Apenas ele não acreditava que eu conseguiria ficar longe dele.


-Então tá. - Respondi irritado e fui embora.






Depois, no dia seguinte, encontrei meu namorado e contei para ele sobre o encontro. Ele quis saber tudo e eu contei tudo. Ele perguntou se eu estava arrependido de ter decidido namorá-lo. Mas eu não estava. E não estou. Cada vez mais me parece a coisa certa. Nem sempre fazer a coisa certa é ser chato e monótono. Às vezes é nossa única opção se quisermos ser felizes.


Bom, eu tinha mais coisas para contar, mas acho que vou deixar para minha próxima postagem. Por hoje já cansei de escrever e fico por aqui. Beijos aos que lerem.

5 comentários:

Lisandra Machado disse...

Bacana o blog ... bjos visita o meu depois

Aмbзr Ѽ disse...

olha, uau... tu resiste mesmo a tentações... mas isso ficou otimo, seguiu tua decisão. tua fidelidade para consigo mesmo...
demais, demais mesmo. sou viciada no modo que vc escreve.

http://terza-rima.blogspot.com/

Lisandra Machado disse...

só falta me seguir hehe

Aмbзr Ѽ disse...

volta, moço. saudades.

Anônimo disse...

Que bella Historia, podrias poner un traductor para que sea mas facil para mi leerte.

hermoso blog, me encanta.


besotes