quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Relato de Um (Quase) Suicídio



Estou eu, aqui, voltando ao assunto Suicídio. Mas acho adequado, já que hoje é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, no Setembro Amarelo, um movimento mundial criado para promover a discussão do assunto, a conscientização da população, e a prevenção do mesmo. Ás vezes, as pessoas não entendem o que passa na cabeça de uma pessoa que tenta se matar. Muitas vezes, quem faz isso, é vítima de preconceito, taxada de fraca, de carente de "atenção", seja antes ou depois da tentativa. As vezes, antes de chegar as vias de fato, algumas pessoas tentam conversar com alguém, porém a incompreensão é como uma barreira que faz o suicida sentir-se ainda mais culpado, e, em muitos casos, tentativas de fazê-lo ver as coisas "em perspectiva" só aumentam seu sentimento de inadequação e desvalia. Abaixo, o relato de como foi minha tentativa e o que eu senti. 




"Está tudo tão confuso. Estou aqui na casa do vô e da vó. Acabei de lembrar, não sei bem porque, os momentos antes de tomar os medicamentos que configuraram a tentativa de suicídio de uns dias atrás. Me lembrei do momento em que, calmamente, tirei as embalagens de medicamento da caixa organizadora onde ficavam. De quando tranquei a porta do quarto, liguei a música do celular e coloquei os fones. Sentado na cama, tive aquele momento de dúvida, que deve dar em todo mundo que faz isso. Tirei as cartelas das caixas e fiquei encarando-as. Sem chorar, para não ser ouvido, comecei o trabalho repetitivo, chato, frenético, assustador, que eu odiaria (não gosta de trabalhos repetitivos), caso não fosse o último que eu faria. Não lembro quantas caixas foram, mas agora sei que foram insuficientes. Lembrei agora de alguns anos atrás, quando eu tinha uma reserva imensa de remédios que eu tomava na época e tinha conseguido de amostras. Eram muitas caixas de um medicamento forte. Muitas mesmo e eu os escondia no meu quarto. Um dia uma pessoa encontrou e me perguntou por que os guardava escondidos ali. Respondi, aparentemente brincando, mas dizendo a verdade: "Ora, para o caso de querer abortar a missão."

O detalhe é que na época eu estava bem. Como agora.

A verdade, é que esse pensamento me acompanha vida inteira, desde que me entendo por gente, e humano consciente e pensante. Como se a ideação suicida fosse uma segunda natureza, uma parcela daquilo que define quem sou, da minha essência. E tem uma parte minha que luta contra "minha luta para arrancar esta essência", que me faz sentir que isso seria como me mutilar. Não cortes de estilete no braço, mas um braço ou uma perna ou ambos arrancados.

Portanto, tomei a decisão. Não total. Não era uma escolha total, era mais com uma roleta russa. Na verdade tive tanto medo, principalmente de ficar vivo em uma situação ainda pior do que aquela na qual me encontro, por ter tomado o suficiente mas ter sido salvo e ficado sequelado, que deixei duas caixas do medicamento intocadas. Mas voltando ao relato, tomei o primeiro gole da minha garrafa d'água e engoli cerca de três quartos dos comprimidos. Daí fui na sacada sentei e a Laura, minha gata, que estava o tempo inteiro do meu lado, subiu no meu colo mais uma vez. Depois voltei, tomei o resto dos comprimidos, tudo ficou nebuloso e não me lembro de mais nada."




E esse é o relato. Vou deixar que ele fale por si. E o fato de eu estar aqui escrevendo, fale por mim e pelo que sinto agora, pós internação e pós ECT. Beijos ao que lerem.





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