sábado, 14 de agosto de 2010

Oscilações de Peso

Gente, fizeram um comentário no meu post anterior sobre o fato de eu ter dito que durante o surto psicótico eu julgava ouvir os pensamentos das pessoas e sobre meu peso.

Quanto a leitura de pensamento, não é que eu lesse, era mais como ouvir mesmo. Como se as pessoas estivessem pensando em voz alta. E eram pensamentos bastante coerentes, mas era algo meio horrível. Se era de verdade, definitivamente não quero saber o que as pessoas pensam, pois dentro da mente elas pareciam não ter filtros, pois sabiam que ninguém podia ouvir o que estavam pensando, e era bem assim que eu ouvia as coisas. Eu escutava coisas interessantes, mas também coisas horríveis. Além do mais, um dia peguei um ônibus lotado quando estava no começo do surto e confesso que essa coisa de ouvir os pensamentos das pessoas foi meio aterrorizante. Eram como estar no meio uma multidão com todo mundo falando ao mesmo tempo. Eu conseguia distinguir o que eram pessoas realmente falando, de pessoas pensando, não sei bem como, mas eu chegava a ficar zonzo de tanta informação junta.

Quanto a poder ser verdade, que talvez realmente ouvia a mente das pessoas, às vezes tenho esses pensamentos também. Talvez eu tenha algum talento meio estranho, um mediunidade ou sei lá o que, mas sinceramente, não me sinto preparado para utilizá-lo ainda. Isso que vivi no surto me apavorou, e não tenho vontade de viver de novo. Quer dizer, até gostaria de ter esse talento, mas desde que pudesse controlar quando ele apareceria ou não, tipo um botão de liga e desliga. Com certeza no ônibus eu deixaria desligado. hsuahsuahsuas

Comentaram também no meu post anterior que obsessão por peso não é muito bom. Eu sei disso, mas é que minha história com oscilações de peso é antiga e não consigo evitar de ser meio obsessivo com isso. Vou contar a vocês minha história:

Quando eu era criança era um varinha de tão magro. Isso no colégio era um prato cheio para as outras crianças. Eu já era alvo de certa perseguição por ser diferente dos meus outros colegas. Era anti-social, introspectivo, sensível, delicado, normalmente acabava me tornando o queridinho das professoras e tinha um talento danado para o desenho. Nem mesmo no jardim isso provoca simpatia nas outras crianças. Desde aquela época sou acostumado com palavras como bichinha, entre outras palavras chulas que se usa para referir-se aos homossexuais, e que as crianças ouvem os adultos dizer e logo cedo entendem o significado, e o quão pejorativo é o termo. E ser magro não ajudava. Me chamavam de “palito de dente”, “palito engomado” e por aí vai. Eu nunca fui bom em me defender sozinho, e sentia vergonha demais para pedir ajuda a um adulto, então fui convivendo com isso e acreditando que havia mesmo algo de errado comigo. Uma das coisa que primeiro eu resolvi mudar, pois estava ao meu alcance, era meu peso. Comecei a comer muito, mas muito mesmo. Eu comia mesmo sem estar mais com fome e às vezes chegava a ficar com dor na barriga de tanto comer. Tornei isso um hábito e comecei finalmente, após algum tempo comendo assim, a ganhar peso. Só que também percebi que comer ajudava a afastar a frustração, e a ansiedade, e a tristeza e maioria dos sentimentos negativos. E depois que uma criança descobre isso, é difícil fazer ela parar. E fui ganhando peso, ganhando peso, e quando vi estava gordo. Daí de palito engomado, fui para “gordo, baleia, saco de areia”, “orca” e qualquer apelido pejorativo para gordinhos que vocês consigam imaginar.

Só que parar de comer, depois que você desenvolveu o comer compulsivo, é uma das coisas mais difíceis para uma pessoa fazer. Principalmente para alguém ansioso, inseguro, depressivo e frágil como eu era. Comer era minha válvula de escape de um mundo que me rejeitava. Só que emagrecer começou a se tornar uma necessidade, pois sendo gordo, eu sofria mais ainda do que quando era magro demais. Nessa época já estava com doze anos, quase entrando na adolescência e a vaidade começara a surgir em mim. Comecei tentar dietas, reeducação alimentar e tudo que pudesse me fazer emagrecer. Nada dava certo. Eu simplesmente não conseguia. Até que aos 14 anos fui passar uns dias na casa de minha avó paterna, que é super rígida. E ela me ensinou a ter controle. Ela não deixava eu repetir o prato. Pão, era um no café da manhã, um a tarde e deu. Comer era só no horário das refeições. E lentamente eu fui percebendo que conseguia ficar sem aquilo que eu comia antes. E ela não precisava mais me proibir, eu comia a quantidade determinada por livre e espontânea vontade. Pela primeira vez em muito tempo estava no controle de algo novamente. A sensação era inebriante.

Depois que voltei para casa, comecei a diminuir as porções de comida mais ainda, para emagrecer mais e mais rápido e depois comecei a cortar coisas do cardápio, arroz, feijão, pão, massas. Quando vi estava comendo só salada, carne e frutas. Depois tirei a carne. E cada vez emagrecia mais, e cada vez estava mais no controle sobre minha alimentação, depois tirei também a salada e deixei só as frutas, e, no fim, cortei as frutas também. Aí eu já havia espichado e estava na altura que tenho hoje, que é 1,81m. Um dia cheguei aos 65 kg. Mas eu não me achava magro o suficiente ainda, e queria emagrecer mais. Então continuei sem comer mais nada, apenas tomando água o dia inteiro. Para não dizer que não comia nada, às vezes, a cada 3 ou 4 dias, comia uma maçã, ou uma rapadura de leite.

Quando estava acho que com 63 kg, (estava emagrecendo mais devagar agora, meu corpo parecia resistir) um dia minha mãe entrou no quarto quando eu estava me vestindo e me viu de cueca. Meus pais ainda não haviam percebido que eu não comia, minha mãe fazia faculdade e trabalhava, meu pai trabalhava o dia inteiro, não comíamos muito juntos e quando me perguntavam o que eu tinha comido eu mentia que comera salada ou algo assim.

Uma semana após minha mãe me ver de cueca, fui mandado a uma psicóloga. Na verdade eu já fiz muita terapia, quando era criança, fiz terapia dos 6 aos 12 anos com uma psicóloga infantil, por quê meu pai me achava “diferente” dos meus outros irmãos. Isso quer dizer exatamente ele não queria que eu me tornasse gay um dia, esse era seu maior medo em relação a mim. E foi para ela que me mandaram novamente dessa vez. Durante um tempo, acho que enganei ela, montava cardápios naturais inteiros contando para ela o que comera ou deixara de comer, mas já nos conhecíamos há muito tempo, e após um tempo cansei de mentir e disse que não comia mesmo, não ia comer, queria emagrecer mais ainda (nessa época cheguei aos 60 quilos, estava irreconhecível), não via nada de errado nisso e estava me lixando para o que ela pensasse. Além do mais, ela não podia contar nada a ninguém por que isso iria contra seu código de ética profissional. Ela durante algum tempo tentou me convencer a voltar a comer, explicou que o quê eu tinha era Anorexia Nervosa, explicou os horrores da doença, me mostrou fotos de anoréxicos para tentar me assustar (eu apenas achava as fotos lindas e sonhava em ser como as pessoas que elas mostravam. Tinha vontade de arrancá-las dos livros dela e colar todas no meu guarda-roupa), mas nada adiantou. Só que eu estava enganado quanto ao código de ética profissional. Realmente ela não podia contar nada do eu dizia a ninguém, EXCETO EM CASOS DE RISCO DE VIDA.

Ou seja, um dia ela marcou uma reunião para meus pais e eu e contou tudo. Ameaçaram me internar, disseram que se eu não comesse iam ter que me dar soro, e eu ia inflar que nem um balão, então concordei em voltar a comer.

Durante um tempo eu consegui tapeá-los, levava minha comida para o quarto, colocava numa sacolinha, escondia e depois despachava. Só que um dia eu esqueci de despachar e meu irmão encontrou a sacola. Reunião de novo, ameaça de novo e agora tinha que comer na frente de alguém. Eu comia. Mas depois me escondia no banheiro e vomitava. Só que isso também todo mundo acaba descobrindo um dia e foi o quê aconteceu. Daí eu tinha que comer na frente de alguém e depois tinha que ficar na companhia de alguém para que não pudesse ir ao banheiro. Tipo, eu sei que eu estava doente, mas vocês não imaginam a raiva eu sentia deles por me obrigarem a comer.

O tempo foi passando, fui recuperando o peso com uma rapidez espantosa, me odiando por isso. Após um tempo tive que parar a terapia, eu já não tinha tanto controle sobre o que comia e meu peso se estabeleceu em 75 kg e lá ficou por muitos anos. Quer dizer, meu peso oscilava. Nunca me satisfiz realmente em ter 75 kg, queria ser mais magro, mas já não tinha a opção de ficar sem comer, por que agora meus pais estavam sempre atentos a mim. Mas existem dietas, e eu tentei todas. Mas era tão rígido comigo mesmo, e meu humor variava tanto, também tinham os sofrimentos, dúvidas e frustrações da adolescência, que chegava uma hora que não agüentava mais e caia em orgias de comer compulsivo e engordava até voltar aos 75 kg ou até passar um pouquinho. Mas no geral, esse era meu peso mesmo. Até que tive o surto psicótico.

Quando tive o surto tive que tomar remédios muitos pesados, como eu disse no meu post anterior, remédios que me davam uma fome incontrolável, e, mais rápido do que eu poderia imaginar, cheguei aos 100kg. Depois que terminei com meu ex e finalmente troquei os remédios por alguns com menos efeitos colaterais comecei a emagrecer e até agora continuo a emagrecer. Descobri a dieta adequada para mim e já a sigo faz quase dois anos. Algumas vezes parei, fiz um pouco da manutenção e depois continuei o emagrecimento. É uma dieta metabólica, baseada no índice glicêmico dos alimentos e no controle da glicose e da insulina no organismo. Dá super certo, atualmente estou com 69,5 kg e minha meta é chegar aos 67 e começar a manutenção. Às vezes ainda tenho uns ataques de comer compulsivo, normalmente quando sou rígido demais comigo mesmo na dieta, mas estou aprendendo técnicas para lidar com esses ataques e atualmente tenho tido sucesso. Descobri que o segredo para emagrecer é conhecimento, uma certa flexibilidade e muitas substituições. E também ajuda se você realmente procurar apreciar sua nova alimentação. E não menosprezar a si mesmo e seus resultados. E procurar não jogar tudo para o alto, apenas por causa de um dia que você falhou na sua disciplina.

Ainda tenho certa obsessão por meu peso, mas agora é algo com que consigo lidar de uma forma positiva. Hoje em dia sei tanto sobre nutrição e emagrecimento (li muito sobre isso até descobrir o livro que me ajudou, que se chama A Dieta de South Beach) que às vezes acho que poderia seguir carreira nessa área.

E essa é minha história com meu peso. Desculpem se me prolonguei demais, tá? Então paro aqui. Beijos aos que lerem.

6 comentários:

Andre Mansim disse...

liga não, quando a gente está mais gordinho a gente acha que escuta vozes, que lê pensamentos e interpreta expressões, hahahaha. Muito bom texto!!

Beê disse...

Uou !!
Que histórico hein!!
Entendo ( eu acho) um pouco de psicologia, porque minha mãe é, e passei meu desenvolvimento ouvindo teorias freudianas e me auto-analisando. kk
Isso me gerou uma certo grau de auto-critica intensificado por uma tendencia de auto-desprezo, que após um tempo descobri ser mais uma manifestação de alguma negação sexual, originada por algum conflito ao longo da minha infância com meu pai.
Digamos que eu 'não aceitava' ser humana, ou melhor, eu me sentia insatisfeita por eu ser mulher, e por estar dentro de todas limitações desse sexo ( que se faz muito mais evidente na sociedade do que as limitações do homem). Provavelmente porque como menina nunca tive o reconhecimento e a aprovação sincera de meu pai. Por certo tempo eu o culpei. Mas hoje eu o compreendo mais, ele também teve seus complexos em relação as mulheres e a projeção deles em cima da filha menina era inevitável.
E com o tempo passei a me cobrar menos e me aceitar mais. Sem precisar eliminar a consciência crítica...

Uma das coisas que entendi no percurso, é que a alimentação e a cobrança em cima do peso é reflexo de alguma insatisfação em relação a própria sexualidade.
Ao que eu vejo, parece estar relacionado com a repressão por parte do seu pai.
A desaprovação do pai é algo que marca muito o filho e ele tende a levá-la consigo ao longo da vida... É algo tão dificil de superar...
Acredito que essa sua obsseção com o peso é reflexo disso. teu inconsciente te cobra um padrão que é um sacrifício pra voce cumprir, por que lá no fuuundo voce se culpa por ser gay, não que voce acredite ter culpa, mas a opinião de seu pai ficou gravada na auto-estima, em algum lugar no sub-consciente. E até o lance do seu masoquismo emocional pode ser resultado dessa negação alheia inserida em sua mente em cima da sua sexualidade.
no estilo: ' eu frustei todas as espectativas dos meus pais, não sou merecedor, devo me punir por isso.'

Desculpe a intromissão no seu inconsciente kk estou chutando no escuro, pouco te coonheço para afirmar essas coisas. Apenas tentei uma dedução !

Sobre ler os pensamentos. De duas hipóteses:
1 - toda repressão, e auto-desprezo te gerou uma tendencia esquizofrênica, projetada em forma de vozes e pensamentos alheios que te menosprezam. ( explicação de psicoterapeutas)
2- Voce tem um sexto sentido muito bem apurado! E eu acredtio nessas coisas, portanto pessoalmente não creio que seja surto de esquizofrenia :)


Beijos!

Yasmin Silveira disse...

Uau... muito bem escrito!! Li inteiro pq tbm vivo na luta contra o peso... Me identifiquei em alguns momentos, em outros me serviu de alerta. Bem bacana! Adorei, vou seguir seu blog, e com certeza voltarei sempre! Sucesso!!

http://orasbolotas.blogspot.com/

obelloescrivinhador disse...

Yasmin e André:
Obrigados pelos elogios e pelos comentários.

Carolina B.
Adorei teu comentário. Você é perpicaz, e muito do que você disse eu já pensei alguma vezes e inclusive falei na terapia. Achei super interessante suas suposições. Quanto ao negócio de ler mentes, é como eu disse, às vezes pendo para o lado de acreditar que era de verdade, outras vezes aceito a epxlicação psiquiátrica mesmo. Mas sinceramente, hoje não faz tanta diferença. Beijão para você.

Mari Cavalcanti. disse...

Nossa que história interessante.
Adorei o BLOG.

Se quizer seguir...
http://maricavalcantii.blogspot.com/

mjrmirote disse...

75 kg bem distribuídos pra 1,81m. Você devia arrasar corações. Eu tenho 1.80 e meu peso oscila entre 69, 71kg. Mas se você quer emagrecer mais e se acha mais bonito assim. 67kg já está bom e no recomendável. Você pode até chegar nos 81kg e vai estar saudável. Mas tem q chegar nesse peso sendo uma pessoa q tem alguma atividade física, mesmo q seja uma caminhada d uma hora por dia. Pra o peso ser bem distribuído. 71kg, seria no caso um peso normal q deixaria seu corpo bonito se caso você não fizesse nenhuma atividade física. Agora fico imaginando se t dá a doida e você passa a querer ter 100kg d massa muscular. Ui! Ae fica escroto. Um homem com 80kg d massa muscular já fica bem bonito. Um dia vou ter esse peso quando criar vergonha e fazer academia. Quanto a questão d ler pensamentos. Tomara q um dia você consiga ter controle sobre si, e confirme q o q vc tinha não era delírio. Ae sim você vai ter q se manter no anonimato pra o governo não t sequestrar e t recrutar como agente secreto. HUhauhuahua!!! Muito bom o texto cara. Pode respoder a pergunta q t fiz no seu blog mesmo. É até melhor. Abreijos.