sexta-feira, 22 de abril de 2016

Quase Tragicômico (Compreensão)




É triste e engraçado. Quase tragicômico. A gatinha branca, sem nenhum motivo aparente, começa a miar, e miar e miar, a correr pela casa e, de repente, pára próximo à porta da área e me olha com olhar questionador (Cadê ela? Ela costumava estar sempre aqui!), num apelo que de mudo não tem nada (Traz ela de volta!), e, por fim, de censura (Tu colocou ela na “casinha do sumiço”, levou embora e ela nunca mais voltou!). 

Depois corre de novo, desta vez para a frente do meu roupeiro, e mia, um miado desesperado, e novamente me olha, com olhar de censura, de apelo, de esperança, como se eu estivesse mantendo a Sarah no roupeiro por quase duas semanas. Roupeiro que a Sarah costumava abrir e entrar, e que eu, distraído, fechava por achar que tinha esquecido de fazê-lo. E roupeiro ao qual a Lana parava em frente, miando, até que eu fosse lá e tirasse de lá a sua maninha, que dormia tranquilamente aconchegada em minhas roupas. Só que agora, eu abro o roupeiro e a Lana olha para dentro e não encontra sua irmã. E o desespero, a saudade, tristeza, a falta e a recriminação a mim, que levei a Sarah embora, dominam ainda mais seus miados até que ela cansa e sofre em silêncio, tentando aceitar que agora, ao menos por enquanto, o único carinho que terá será o meu e dos meus pais, irmãos e sobrinhos.

Mas não adianta, pois ela é apenas uma gatinha, e mesmo eu tendo explicado tudo para ela, ela não entende. Não está no nível de compreensão. Pelo menos agora. Pelo menos enquanto ela chora. Pelo menos enquanto durar seu luto. Como nós, ela não quer deixar a Sarah partir. Ela não pode aceitar. Sente a ausência dela, mas, assim como acontece conosco, ela não entende e nem quer entender. Por que ela a amava de todo coração. O tipo de amor mais puro que pode existir. O amor inocente, de um inocente por outro inocente. De irmãs.

Por fim, ela desiste. Ela não pode trazer a mana de volta. Talvez isso ela já entenda. E vai, pára próximo à porta da área novamente, e se abraça ao paninho onde Sarah dormia, que ainda tem o cheiro dela. E brinca com o pano como se estivesse brincando com a irmã, mordendo e patinhando com as patas de trás...

Como eu disse, em alguns momentos é cômico, mas no geral é triste. Triste e enternecedor e doloroso para os envolvidos. Mas tenho que aguentar, dando a ela o maior suporte, carinho e amor possível. Aquele tipo de amor que Cura. Assim como elas, com seu amor, me curaram um dia.

Beijos aos que lerem.

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