domingo, 25 de setembro de 2016

É A Sensação



É sensação de ser vitorioso.

De que todo mundo que poderia atrapalhar está longe ou tranquilo em relação a mim.

De que se eu tomar aquelas duas caixas de Rivotril, em casa, sozinho, ninguém vai me impedir.

De que ninguém vai me juntar do chão caso eu caia, que poderei me afogar no vômito, se vomitar, e ninguém vai impedir.

É a sensação de ter coragem, e sangue frio.

De ter tomado pela primeira vez na vida uma decisão de verdade e de ir com ela até o fim.

É sensação de que as vozes e risadas de escárnio vão parar.

É a sensação de que a dor e a culpa pelo fato de estar vivo vai cessar de existir.

É a sensação do zumbido de uma mosquinha dizendo que se tudo isso é verdade, por que não tomei junto com as duas caixas de Rivotril, todos os meus remédios da semana que pegara, naquele mesmo dia, com meu pais.

...covarde. Covarde. COVARDE.

É a sensação de que a própria ideação suicida, é covardia.


Uma espécie banal e medíocre de rebeldia. Uma preguiça de lutar. Sim, sou vagabundo assim como sempre disseram. Tenho PREGUIÇA PATOLÓGICA DE LUTAR.

Mas tenho um motivo. Nada nunca é o suficiente. Talvez hoje em dia, seja o suficiente para vocês e vocês achem que com o tempo irei evoluir. Mas para mim não é o suficiente. E meu cérebro, que comando isso tudo, me manda esses sinais o tempo todo. Não de que não sou capaz, mas de que sou, mas sou um vagabundo, marginal, (palavras tiradas do repértorio do meu pai) ridículo, cômico, digno de riso e escárnio e por isso não conquisto porra nenhuma.


É a sensação de que nada que faço, tem algum valor. Seja uma música, seja um texto, um livro, um desenho ou uma pintura.


É a sensação de ser um traste imprestável. Eu luto, luto, luto contra tudo isso e quem me vê, acredita que tenho um super auto-estima. Só que feita do mais fino vidro que você podem imaginar. E uma risada, ou palavra, ou crítica, mesmo que seja na casa do vizinho, mesmo que meu ouvido não distingua o que dizem, meu cérebro se encarrega de interpretá-las e reduzir minha auto-estima ao pedaços. Não vou entrar nos porquês. Eles não importam mais.



A questão é que mais uma vez fiz uma roleta russa. Depois de tomar os remédios, dormir desde terça-feira de tarde até quarta-feira de tarde. Fui acordado, pelo telefonema da minha mãe. Pela milésima vez ela me deu a vida. Claro, não sei se acabaria morrendo caso não tivesse havido a ligação. Não sou médico. Abaixo um trecho da carta que tentei escrever quando tomei os medicamentos. Uma parte acho q que meu cachorro comeu. Da carta, não dos medicamentos.

Tadinhos, quando tomei a superdose ambos vieram ficar do meu lado.  Minha linda gata branca Lana e meu cachorro mesclado Toddy. EU disse a eles e sabia que iam cuidar deles, mesmo que sentissem minha falta. Mas confesso que não pensei muito nisso quando fiz a tentativa. Egoísmo. Suicídio é a maior mistura de egoísmo e altruísmo que existe. Egoísmo por que queremos acabar com a NOSSA dor, trabalho e sofrimento. Altruísmo por que vamos, de uma vez por todas, parar de dar dor, trabalho e sofrimento para a as outras pessoas. Mas vamos lá.



“A CARTA:

Um Fim


Desculpem.


DESCULPA, PERDÃO



Mas nunca fui muito bom em queda de braço. Está certo, vocês venceram. Eu, na verdade nunca quis realmente lutar. Só ser salvo. Queria apenas encontrar um príncipe que me levaria em seu cavalo para o felizes para sempre. A vida não é assim. Hoje eu sei que o felizes para sempre não existem. É algo que depende de nós. |É uma luta diária. Ou talvez apenas algo inventando para as pessoas conseguirem seguir em frente vivendo. A questão é que não sei lutar. Falta em mim algum componente essencial.

Talvez seja realmente um vagabundo marginal como dizem tanto. Riam bastante agora. Sou um palhaço e no velório do palhaço, esperam-se risos.

Desculpem se não correspondo as expectativas que você tem, tinham ou tiveram para mim. Estou destroçado. Caindo aos pedaços.

Minha suposta “genialidade e talento”, são apenas manifestações dos pedaços de sentimento sem frangalhos restantes, que tenho pela vida e pelas pessoas.

Desconfiança é uma das palavras mais feias que existem para usar com um amigo, mas…”



E essa foi a carta.

Creio que não tive o resto de energia, nem capacidade para terminá-la, pois já tomara todos os remédios.

Havia nela um setor de agradecimentos, mas foi comido pelo Toddy.

P.S.: Apesar de tudo que escrevi, obviamente estou vivo. Feliz ou infelizmente. Mas já que estou aqui, beijos aos que lerem.

Nenhum comentário: