quarta-feira, 13 de julho de 2016

It’s All About Love



“É sobre amor” - disse Alice, no final do filme “PARA SEMPRE ALICE”.

E eu decidi lutar. Mesmo que para outras pessoas e às vezes até para mim mesmo pareça uma derrota. Vou fazer mais “ECTs”, se a minha psiquiatra achar indicado. Tem muitas coisas que tenho meio que “esquecido” de mencionar para ela referente às “minhas paranóias” e ao sofrimento que estão me causando. A omissão foi por medo da prescrição de mais ECTs (a dra já havia me sugerido que faria bem) ou até de internação. Medo dos esquecimentos, perda de memória recente e acima de tudo da aura de derrota que o ECT carrega. Do estigma.

Hoje fui na minha psicóloga, pensando em falar para ela o quanto estava bem, por uma série de sinais e fatores que mencionaria para ela. Acabou que eu falei sobre o sofrimento que a paranóia me causa e na possibilidade de fazer ECTs novamente. Tentei contrapor com o fato de que mal me lembrava da época que fiz o ECT, o medo de me tornar um robozinho sem alma, de perder minha essência, de sacrificar aquilo que me torna EU.

Mas então, agora assisti “PARA SEMPRE ALICE”. Na verdade o nome do filme é “STILL ALICE”, algo como “AINDA ALICE”, pois a acompanha a história de uma mulher, relativamente jovem, e brilhantemente interpretada pela talentosíssima atriz (AMO-AMO-AMO) Julianne Moore, que descobre sofrer de um tipo raro e precoce de Alzheimer. O filme mostra todo o desenvolvimento da doença, mas que , no fim das contas, ninguém pode tirar dela ou apagar tudo que ela foi, fez e viveu. Mesmo que ela não lembre. Ainda que no período mais sombrio da doença não pareça, ela ainda é a Alice, a mesma que foi renomada professora de linguística com competência e brilhantismo.

Em certo momento do filme, um dos mais lindos e importantes, na minha opinião, Alice diz que às vezes as pessoas não nos levam a sério, por nosso comportamento estranho ou fala confusa. Na percepção dos outros, e algumas vezes na nossa também, nos tornamos ridículos, incapazes, cômicos. Mas ISSO, NÃO é quem nós SOMOS. Isso é a doença. Alice completa dizendo que apesar de tudo isso, não pensem que ela está SOFRENDO. Ela está, é LUTANDO. Ela fala também sobre perda. Perder coisas. Diz que estamos sempre perdendo algo. Assim como ela perde as memórias. Nada de tão diferente. Ainda que no final do filme, seja dito que nada se perde. Não realmente.

Assistindo ao filme me identifiquei com algumas coisas:

  • Com a impotência diante do avanço inexorável, que pode ser retardado, mas não detido, da doença. Afinal, ambas são doenças crônicas, podem ser tratadas, mas não curadas. A dela, o Alzheimer, a minha, o transtorno esquizoafetivo;


  • Com a percepção de que nos acham ridículos ou incapazes ou cômicos; 
  • Até com as perdas de memória. Eu as tenho, quando não por conta do ECT, por causa da quantidade de remédios que tomo, incluindo vez ou outra, o maior causador de esquecimentos, Rivotril; 
  • Me identifiquei MUITO também com a família amorosa, procurando dar suporte a ela. Apesar de, nas horas de paranóias eu me voltar contra eles ou vê-los como vilões, conspiradores ou sei lá o quê, tem um outro lado meu, talvez o são, que vê todo o apoio, suporte força e compreensão que eles me oferecem. Meu pai inclusive. Claro que nesse exato instante que escrevo isso, minha doença diz que é isso que ELES querem que eu pense. E fica o conflito; 
  • Conflito. Isso também é algo que me identifiquei. Ela luta contra a doença, se render-se. Assim como eu, seja tomando os medicamentos, seja indo nas consultas ou tendo feito ECT ano passado. 

E agora, vou partir para a luta de novo. Pode ser que na cabeça de gente ignorante, EU inclusive, isso pareça uma desistência de lutar contra a doença e rendição ao caminho mais fácil.

Mas o ECT não é fácil. É assustador. Causa amnésia. É extremamente estigmatizado. Mas funciona. Profissionais competentes e minha própria experiência mostram isso. E nenhuma doença filha da puta vai ditar minha opinião para que eu continue sofrendo. Pois agora, como disse Alice, não estou sofrendo. Estou lutando.

E como é dito no final do filme, “é sobre amor”. Tenho pessoas que me amam. Pais, irmãos e irmã, sobrinhos, afilhados, amigos. Meus filhotes caninos e felinos. Tenho todos os motivos para lutar.

Posso nunca derrotar a doença, mas terei vencido. Pois seguir lutando, é uma VITÓRIA.

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